Tivemos a oportunidade de ver o mais “esperado” filmes dos últimos tempos: The TheWizard’sApprentice – Adam Ondra . E no fundo, o que ficou foi uma espécie de desilusão. Desilusão que pode ser extensível à generalidade dos últimos filmes de escalada. A falta de conteúdo ou de “alma” que garantam alguma profundidade continua a ser a pedra de toque, fazendo a escalada parecer um desporto vazio, onde as pessoas se limitam a subir paredes sem qualquer sentido.
O filme começa pela estória do próprio Adam. Onde e quando começou, e o interesse que despertou nas primeiras vezes que começou a frequentar os ginásios locais e nas primeiras competições que ganhou. Apercebemo-nos que o apoio dos pais é um aspecto fulcral na sua vida de atleta o que nos faz lembrar que estamos ainda na presença de um adolescente.
Do Frankenjura, à espectacular Sardenha, da badalada Catalunha aos blocos da Suíça, seguimos Ondra na sua habitual razia, destacando-se talvez, na Sardenha, a via Marina Superstar um impressionante extraprumo a 60º, onde podemos apenas apontar algumas falhas técnicas em que, na mistura de diferentes planos nos apercebemos do uso de câmaras diferentes com qualidades distintas.
É sem dúvida alguma impressionante ver o Adam Ondra escalar, tem um estilo muito distinto e o que faz é preciso e pensado. Ainda mais impressionante, mas pela negativa, são as birras e os berros que liberta quando falha. Torna-se até desconfortável, dando necessidade de baixar o som das colunas. Tudo isso atinge o culminar na Golpe de Estado! Em relação a isto, pelo menos temos a explicação da mãe que justifica as birras, afirmando que qualquer miúdo quando falha chora e que, quando o Adam atingiu uma certa idade, aconselhou-o a berrar e a dizer asneiras. Também aqui a sombra dos pais é omnipresente contextualizando tudo, das performances aos berros, pais e filho constituem, neste filme, uma espécie de trindade que bem ou mal marcará o que se poderá chamar o primeiro capítulo da vida do fenómeno Ondra.
O filme é ainda marcado pela presença de vários escaladores “famosos”, como por exemplo, Alex Huber, com uma participação, um tanto ou quanto “triste”, acerca do sistema de graduação, afirmando que é um sistema algo vago e que mais cedo ou mais tarde teria de aparecer um escalador forte para esclarecer isso, sendo esse escalador o Ondra. Bem, não há dúvidas que é um escalador fortíssimo, mas antes dele, existiram / existem outros que foram elevando as fronteiras do que se pensava possível, como por exemplo, Chris Sharma. Ondra terá sido o que repetiu as vias do próprio Huber e as contextualizou temporalmente na efémera tabela das vias mais duras, colocando assim Huber no lugar histórico que ele pensa lhe estar reservado, e se calhar bem.
Por último uma nota para o narrador que demonstrando um total alheamento da escalada, talvez cego pela realidade sobre-humana do aprendiz de feiticeiro, permite-se considerar vias e blocos entre o 9ª e 8B como fáceis. No total é um filme que vale a pena ver, nem que seja para nos apercebermos que nem tudo é dado, mesmo sendo um prodígio como o Adam. Está muito trabalho envolvido, muita dedicação e paixão pelo desporto e, no fim de tudo, só nos resta perguntar. O que irá fazer o Adam a seguir? Filipe Carvalho