Nota solta, numa data à deriva…

Setembro 14, 2017

 

Pela manhã, despertei com uma sensação estranha. O alarme automático de aniversários é hoje redundante. O telefone alerta-me para um aniversário que desde há muito sinto aproximar-se.

Queria marcar a data do aniversário do Sérgio de uma forma especial. O Filipe Costa e Silva (FCS) gentilmente cedeu uma entrevista não publicada, que fez ao Sérgio há uns anos. Pareceu-me uma forma singela, mas também surpreendente de assinalar o dia. À boa maneira do FCS e do NorteBouldering, pensou-se em fazer a coisa bem feita e surgiu a ideia de redigir umas linhas introdutórias biográficas. Mas os afazeres familiares e profissionais, parecem querer contrariar diariamente esta vontade. É difícil sumarizar a biografia de alguém que teve a sua primeira abordagem à montanha há 30 anos (em 1988, com 16 anos de idade). É difícil resumir a biografia de alguém que começou a escalar quando o conceito de escalada desportiva ainda não estava implementado em Portugal, nem sequer havia acesso a material. É difícil falar brevemente sobre alguém que teve um percurso transversal do Alpinismo, à escalada clássica, escalda desportiva e bloco. Alguém que marcou a história da evolução da escalada em Portugal em todas as suas vertentes. Alguém que foi pioneiro, visionário, explorador e dinamizador de algumas escolas de escalada mais frequentadas no nosso país (Redinha, Buracas, Corno do Bico, são apenas alguns exemplos). Alguém que esteve à frente do projecto editorial de montanhismo com talvez maior relevo a nível nacional, a extinta Revista Montanha. Alguém que percorreu as mais famosas áreas de escalada mundial e que conheceu algumas figuras de renome. Alguém que tem uma dimensão vasta para além da escalada e que também ela merecia ser explorada.

Enfim, gostava de ter um texto esmerado, mas ao longo do tempo escrevi linhas e linhas e parece que tudo está incompleto e massudo. Nem sequer me consigo considerar pessoa certa para o fazer, dado que há tantos nomes que me surgem neste percurso e que não conheço pessoalmente ou conheço de relance. Pessoas que sei que foram e são importantes na vida do Sérgio. Tentei então obter ajuda dentro do círculo de amigos, mas rapidamente percebi que estava a pedir uma tarefa penosa. Não é fácil remexer em sentimentos de perda. Como tal, há que dar tempo ao tempo e há que ser criativo e inovador na forma de fazer esta resenha biográfica. Haja tempo e energia para por em prática as ideias na calha.

Resta rematar dizendo, que estes textos numa toada pessoal e lamechas, saem fora do registo habitual que sempre quisemos para o NB. Marcam uma fase complicada, reflectem a ausência da mente por trás de tudo isto e indiciam tempos de mudança ou de algo mais radical. Será que o tiver de ser.

Senhoras e senhores, dentro de momentos, com o merecido destaque em publicação própria, segue a inédita entrevista do Sérgio Martins concedida ao FCS e à revista Vertigem.

PR


Quarta-Feira Fotos. Costa da Morte.

Agosto 30, 2017
Ao final de dia e em ambiente de férias, Bruno Gaspar deixa o

Ao final de dia e em ambiente de férias, Bruno Gaspar deixa o “baby seating” e descarrega a energia acumulada osmoticamente. O Regresso, Sector Techos, Corme. Foto: Pedro Rodrigues.


NB Series #2_Estado de Trevas

Agosto 3, 2017

A vida continua… e o Nortebouldering também, porque só assim faz sentido.

Estamos em plena pré-época de bloco. Vasculhemos então o baú da lixarada, em busca de imagens perdidas de períodos homólogos. É altura de começar a aquecer os motores e as máquinas mais afinadas geralmente fazem-no em alta rotação.

Júlio Braga, ainda em tempo de estio, recupera a forma onde outros nunca chegam a atingir os requisitos mínimos exigidos. Estado de Trevas, um bloco que ainda aguarda repetição e que pode ter ficado mais duro, devido a uma presa partida na época passada.

NB series #2, directamente ao seu focinho, sem grandes rodeios.

PR


Querido amigo…

Julho 3, 2017

 

Apesar de nos lembrarmos todos os dias, hoje importa marcar a data, porque passaram já 6 meses… Aqui ficam as palavras e pensamento do Filipe Costa e Silva, sob forma de poema, com ilustração do Vitor Batista. Não haverá melhor forma de assinalar a data. Para ti, Sérgio…

 

 

ultima_viagem

 

Adeus à flor da pele

Querido
amigo,

A tua morte
bate tão forte,
neste meu peito!
É um adeus sem jeito,
que ecoa num vale vazio
e repete de volta, dor e frio.

Dor e frio…
Dor e frio…

Mas os dois sacudimos
a tua ausência,
e outra vez rimos
da vida e sua ciência.
E é esse o segredo mudo
que me repete a tua morte:

O amor é que é tudo,
a vida é só sorte!

 

 

Janeiro 2017
Poema de Filipe Costa e Silva
Ilustração de Vitor Batista

A grande viagem

Fevereiro 3, 2017

Há um mês, escrevi o seguinte texto, que me saiu da alma. Por problemas de acesso ao NB, com muita pena minha, não foi possível colocá-lo no local próprio: este. Por outro lado, não fazia sentido não o lançar no momento certo, quando as palavras gritavam mais alto, por terem sido escritas à flor da pele. Recupero-as agora, registo-as no sítio que gostarias e lanço a mim próprio o desafio de, a cada 6ª-feira do próximo mês, recuperar ou fazer sair algo  novo sobre ti. Por minhas palavras, por tuas e de outros Amigos. Agora que partiste na tua grande viagem, gostava de citar Amós Oz, “Nós vivemos até ao dia em que morre a última pessoa que se lembra de nós“. Como tal, estás e estarás connosco todos os dias. Até já.

PR

3 de Janeiro de 2017

Ao meu Amigo Sérgio Martins.

Vazio. É a palavra que traduz o que me vai na alma e na cabeça. Preciso de tempo para processar tudo. Na verdade, preciso de falar contigo para conseguir racionalizar isto. Assim, acho que só consigo escrever estas linhas neste tom, de uma conversa entre nós, porque só assim encontro algum conforto em fazê-lo. Bem sei que não quererias esta exposição, mas deixa-me ao menos desta vez cometer a inconfidência de partilhar com outros uma conversa nossa. Porque… o mereces. Sim, serias possivelmente a pessoa a quem ligaria, mais cedo ou mais tarde, para me ajudar a racionalizar o que se passou hoje. E isso diz tudo sobre o que eras. SMART era o teu acrónimo, o que pode parecer pretensioso para alguns, mas não o é. Revela a tua habilidade mental para jogar com as palavras e encontrar no todo as subtilezas que mais ninguém vê. E como eras hábil a apreciar as subtilezas da vida. 

Deixa-me que te diga, agora que deixámos de lado esse pudor, que a tua perda é enorme… à tua escala. Há pessoas carismáticas (e era-lo sem dúvida), mas de entre essas há aquelas que como tu se destacam por terem a habilidade de moldar personalidades. Esse foi o meu caso, não tenho vergonha de admiti-lo. O mais fácil seria falar da forma como moldaste a minha maneira de escalar, mas isso seria um lugar comum, verdadeiramente sem interesse neste momento. Aquilo que menos me apetece é falar de blocos, vias, linhas ou graus (safa, que aversão temos à discussão do grau). Aquilo que me apetece falar contigo agora é da forma como me tocaste mais fundo, como me fizeste compreender o que está para além do mero acto de escalar e que nos fez tirar um enorme prazer desses inúmeros momentos que partilhámos. E isso tem que ver com a forma de estar na vida e de abraçar uma ideia. Ver o que está para além do óbvio. Explorar, descobrir, traçar estratégias, aprimorar processos, imaginar, criar, combinar conteúdos, ser original e sobretudo… pensar. Parar para pensar. Como o fazias bem. Paravas, pensavas, pesquisavas e formavas uma opinião fundamentada (certa ou errada, mas sempre sólida). É isso que me deixas, o ensinamento de como ser metódico. Mais do que linhas, sectores, zonas, falésias, paredes, deixas-me um saber estar, em grupo, um sentido de equipa genuíno. Numa actividade iminentemente individual ensinaste-me que ela vai muito para além disso, ensinaste-me a ser verdadeiramente amigo, a vibrar com as conquistas dos outros como se fossem nossas, a vibrar com pequenas conquistas (como escalar uma linha) como se fossem uma odisseia do Shackleton. Ensinaste-me assim o valor do empenho e da perseverança. Bolas, até me ensinaste, entre outras inúmeras coisas, quem era o caralho do Shackleton… tudo porque tinhas um intelecto e uma cultura acima da média. E isso meu caro, sempre te conferiu uma aura. Mais do que os “V Impérios”, o teu intelecto sempre te conferiu a tua aura. Para alguns intimidante, para outros inebriante. 

Mas antagonicamente, esta capacidade mental permitia-te fazer algo que nos dava um imenso prazer. O acto de regredir na idade. Sim, como é boa a amizade que nos faz voltar à adolescência. Como é bom estupidificar e voltar a ter 15 anos quando se quer. Isso requer cumplicidade. Quero continuar a discutir contigo quem era melhor guarda-redes: Baía ou Ricardo. Quero que me gozes por ser doente pelo Porto. Quero gozar-te pelo teu passado efémero nas claques do Boavista. Quero os serões em tua casa a ver filmes de escalada. Quero os teus jantares gourmet no pátio de tua casa. Quero gozar com as tuas pescarias (que cada vez eram mais exímias). Quero fazer pouco das tuas calças de escalada nos anos 80. Quero ir ter a tua casa às 6:30 da manhã. Quero que me contes as aventuras que viveste, que me fales de viagens. Quero contar-te as minhas. Quero que venhas editar fotos e vídeos a minha casa. Quero fazer-te rir no trabalho com um vídeo de palhaçada. Quero falar contigo ao telefone até ficarmos sem bateria, como geralmente acontecia. Quero falar de ser Pai contigo. Quero carregar escadas e limpar blocos contigo. Quero comer bolo-rei na Farrapa contigo. Quero ir queimar os dedos sem pele num copo de galão contigo. Quero desbravar mato contigo. Quero ouvir-te a queixar de andar de jipe comigo. Quero escrever contigo. Quero ter conversas escatológicas e brejeiras contigo. Quero ter conversas pseudo-intelectuais contigo. Quero ter ideias contigo. Quero inventar nomes de blocos contigo. Quero falar do Filipe, do Júlio, do Zé, do Cunha, do Magno, do Cardinal, do Nunito, do Sotnas, do Alfredo, do Bigodes, do Batista, do Pantufa, do Pintor, do Sérgito, do Miro… mas, hoje… merda… apenas conseguimos falar de ti. Eras um pólo aglutinador. 

E já que falamos de antagonismos, faz agora dois anos que me proporcionaste um. Não me esqueço, quando no funeral do meu Pai me abraçaste e te correram lágrimas pelo rosto. Logo tu, que racionalizas tudo. “Não estejas assim emocionado…” disse-te, “Como poderia não estar…”, respondeste. São as mesmas lágrimas que hoje verti, as de amizade.

De uma coisa estou certo, estejas onde estiveres, teremos sempre os teus braços nas nossas costas a darem-nos segurança. Uma coisa te asseguro, os teus filhos Sebastião, Matias e Vicente terão sempre os nossos a segurá-los.

Até breve Sérgio. Vamos falando entretanto, como de costume.


NB séries #1_Capitão Costas

Dezembro 11, 2015

 

Tal qual fénix renascida, ave lendária da mitologia grega que, quando morria, entrava em auto-combustão e, passado algum tempo, renascia das próprias cinzas, eis que o Nortebouldering dá novamente sinais de vida, neste início de época.

Vasculhando o nosso acervo de imagens, facilmente se constata que ele é maioritariamente constituído por… lixo. Sim, lixo é algo que não falta. Como tal, decidimos ser pragmáticos e começar a reciclar. Daí que tenha surgido o conceito NB series (No Bullshit series, perdoe-se o anglicismo, em favor do trocadilho). A proposta é pegar em imagens inúteis, por vezes até mal filmadas, e aceitar o desafio de se criar curtos vídeos (2 minutos, 3 minutos no máximo), ao estilo americano “in your face”. Sem grandes tretas ou preocupações com história, contexto, ambiente, imagem, etc. No fundo, recorrendo a uma analogia culinária, criar um prato rápido, barato e apetitoso, usando os restos da dispensa, tendo em conta os constragimentos do dia-a-dia.

Comecemos então a saga com NB series #1_Capitão Costas. FA do problema Capitão Costas, em Adaúfe, Serra da Freita, por Sérgio Martins. 

Ingredientes da receita: uma tarde de filmagem, muitos dias a trabalhar o bloco, uma grua mal assente e muitos amigos e tralhas à volta. Tempere-se com uma criança de 7 anos a correr ali no meio. Misture-se tudo numa panela, salteie-se rapidamente com alguns plugins do AfterEffects e sirva-se de imediato, sem deixar arrefecer. Bom proveito. Pedro Rodrigues 


NBgram

Novembro 27, 2015

Estamos de volta. Mais uma época, mais uma viagem no carrossel, o bilhete paga-se sempre com pele, sangue, muitos f*#$%# e, de vez em quando, alguns encadeamentos decentes. Dentro em breve os conteúdos habituais e para já como novidade podem seguir-nos também no Instagram.

 

nb instagram


Quarta-Feira Fotos. KK Bleau

Abril 1, 2015
KK_Envers_Apremont-1_edit

Outra vez no Apremont Bleaussard, Magno King abra a porta ao seu estilo favorito. Foto: Pedro Rodrigues.

 


Be Leaf

Março 20, 2015

leaf1

A Leaf é uma marca 100% portuguesa que está a dar agora os primeiros passos. Como muitas grandes marcas está a começar literalmente numa garagem, à semelhança de John Middendorf com a A5, Christian Griffith com a Verve ou Clark Shelk com a Cordless, só para referir alguns casos.

Filipe Sequeira, a força por trás da Leaf, tem em comum com esses senhores um verdadeiro talento para os chamados “trabalhos manuais”, é um craftsman no verdadeiro sentido da palavra, talento a que junta a sua formação de origem em design gráfico e claro uma paixão pela escalada. Somando tudo aparece a Leaf, para já, e para começar, com uma linha de sacos de magnésio para desportiva e bloco, com materiais muitas vezes reciclados. Os sacos são bem desenhados, bonitos e ergonómicos, fruto da sua criatividade,   um trabalho lento de pesquisa e testes na rocha por escaladores exigentes.

leaf 3

No seu atelier o Filipe também repara, com grande mestria, crashpads, colchões de ginásio, sacos de magnésio, enfim quase tudo.

Para breve mais novidades, como sacos para desportiva, crashpads etc.

Passem pela sua página no facebook ou peçam um catálogo em leafclimbing@gmail.com.


Quarta-Feira Fotos. MC Bleau

Março 18, 2015
MC_Envers_Apremont-1_edit

Algures no Apremont, entre a bruma bleaussard, MC galga em bom estilo uma típica pança. Foto: Pedro Rodrigues.