Pela manhã, despertei com uma sensação estranha. O alarme automático de aniversários é hoje redundante. O telefone alerta-me para um aniversário que desde há muito sinto aproximar-se.
Queria marcar a data do aniversário do Sérgio de uma forma especial. O Filipe Costa e Silva (FCS) gentilmente cedeu uma entrevista não publicada, que fez ao Sérgio há uns anos. Pareceu-me uma forma singela, mas também surpreendente de assinalar o dia. À boa maneira do FCS e do NorteBouldering, pensou-se em fazer a coisa bem feita e surgiu a ideia de redigir umas linhas introdutórias biográficas. Mas os afazeres familiares e profissionais, parecem querer contrariar diariamente esta vontade. É difícil sumarizar a biografia de alguém que teve a sua primeira abordagem à montanha há 30 anos (em 1988, com 16 anos de idade). É difícil resumir a biografia de alguém que começou a escalar quando o conceito de escalada desportiva ainda não estava implementado em Portugal, nem sequer havia acesso a material. É difícil falar brevemente sobre alguém que teve um percurso transversal do Alpinismo, à escalada clássica, escalda desportiva e bloco. Alguém que marcou a história da evolução da escalada em Portugal em todas as suas vertentes. Alguém que foi pioneiro, visionário, explorador e dinamizador de algumas escolas de escalada mais frequentadas no nosso país (Redinha, Buracas, Corno do Bico, são apenas alguns exemplos). Alguém que esteve à frente do projecto editorial de montanhismo com talvez maior relevo a nível nacional, a extinta Revista Montanha. Alguém que percorreu as mais famosas áreas de escalada mundial e que conheceu algumas figuras de renome. Alguém que tem uma dimensão vasta para além da escalada e que também ela merecia ser explorada.
Enfim, gostava de ter um texto esmerado, mas ao longo do tempo escrevi linhas e linhas e parece que tudo está incompleto e massudo. Nem sequer me consigo considerar pessoa certa para o fazer, dado que há tantos nomes que me surgem neste percurso e que não conheço pessoalmente ou conheço de relance. Pessoas que sei que foram e são importantes na vida do Sérgio. Tentei então obter ajuda dentro do círculo de amigos, mas rapidamente percebi que estava a pedir uma tarefa penosa. Não é fácil remexer em sentimentos de perda. Como tal, há que dar tempo ao tempo e há que ser criativo e inovador na forma de fazer esta resenha biográfica. Haja tempo e energia para por em prática as ideias na calha.
Resta rematar dizendo, que estes textos numa toada pessoal e lamechas, saem fora do registo habitual que sempre quisemos para o NB. Marcam uma fase complicada, reflectem a ausência da mente por trás de tudo isto e indiciam tempos de mudança ou de algo mais radical. Será que o tiver de ser.
Senhoras e senhores, dentro de momentos, com o merecido destaque em publicação própria, segue a inédita entrevista do Sérgio Martins concedida ao FCS e à revista Vertigem.
PR