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Página para conhecer um pouco melhor os jogadores que com as suas jogadas, vulgo movimentos, vão marcando o tempo e o espaço NB.

Girl Power, Uma Entrevista Com Sara Melancia.

Super Licença (V8), Covão Cimeiro, Serra da Estrela. Foto: Pedro Rodrigues


Uma garra incomum, uma técnica muito afinada, ou já refinada se quiserem, para a idade, coragem e dedos de aço, formam um conjunto de atributos que conjugados com uma forte motivação para a escalada em rocha, neste caso granito, geralmente nos dizem estarmos em presença de um escalador “sério”de bloco. Só que neste caso é uma escaladora. O que constitui uma raridade, quase singular, no sempre árido panorama português da escalada. A viver na Covilhã, Sara Melancia, faz, naturalmente, da Serra da Estrela o “quintal lá de casa”. E foi aí precisamente onde acabou de encadear o seu bloco mais duro até ao momento. A esse propósito fez o obséquio de responder a umas perguntinhas para inaugurarmos uma espécie de secção de entrevistas: NBPlayers ou seja Jogadores NB.

Acabas de encadear o teu primeiro V8, e que V8, conta-nos um pouco sobre esse bloco?

Fiz o Cântaro Magnificado (Covão Cimeiro). Um bloco que me deu muita alegria em fazer, porque não desisti dele, senti que seria difícil para mim mas continuei a tentar e tentar. Um bloco mesmo bom! Do princípio ao fim!

Mas…como é o bloco especificamente?

O bloco tem todo o tipo de pressas, varia o que é bom. O inicio (começo sentado) penso que é o mais duro! A presa para começar não é das melhores (um áplate lateral muito fugidio), mas depois percebi como tinha de por o corpo e ficou um pouco mais fácil. Quando consegui fazer o inicio o resto também ficou tudo feito.

Saíste por cima, então.

Foi uma alegria, AhAh. Sim, por cima. Penso que o bloco fica óptimo com aquela saída. Os movimentos de saída são incríveis. Mexer bem os pés e ser rápida, foi a chave!

Apesar de fácil, acaba por ser um highball, gostas desse género de blocos, não te metem medo?

Medo?! Não serve de muito ter medo. Eu quero é desfrutar do que estou a fazer, mas confesso que há blocos que acabam por me intimidar devido ao factor altura. É uma questão de ligar o “chip” e de perceber se quero realmente aquele bloco! Acaba por ser desafiante, por isso gosto de highball.

Acabaste por fazer uma FA, o que é uma coisa raríssima em Portugal, para uma rapariga entenda-se, Interessam-te as FA’s?

Uhm…. Confesso que fazer FA’s não é o que me dá mais prazer. Mas sinto-me bem por ter feito.

Gostas mais do desafio das repetições? É isso?

Quando vou a um bloco não dou muita importância ao número de repetições que ele tenha ou se é um FA, simplesmente olho para ele e se me chamar a atenção tento faze-lo! Com ganas!

Tens noção que foste, provavelmente, a primeira mulher, digamos rapariga, a atingir este patamar de dificuldade em Portugal?

Ahah, Sim já me chegou essa informação ao ouvido! Tenho o bichinho do orgulho presente, mas também não dou grande importância ao ter sido a primeira. Provavelmente fui eu a primeira  porque sou a que me dedico mais ao bloco, penso que as outras escaladoras alinham mais em dificuldade (desportiva).

O que te parece o contexto da escalada de bloco em Portugal?

Eu estou no mundo do bloco há pouco tempo, a meu ver, mas já percebi que o bloco é algo desafiante para todos os escaladores portugueses e cada vez mais estão a aderir a esta vertente, falo também de escaladores de idades mais jovens. Fico contente por assim ser, pois ficamos mais completos.

Pois…há pouco tempo …. que idade tens? E, já agora,  quando começaste a escalar?

Tenho 18 anos feitos à pouco tempo. As minhas aventuras de escalada começaram em 2007 se não estou em erro…

Hum…começaste na corda, suponho, e no plástico provavelmente?

Sim. A primeira vez que escalei foi no pavilhão S.Miguel na Guarda. Tem uma boa parede de dificuldade e ainda hoje a escalada lá faz parte do Desporto Escolar.

Portanto, primeiro Guarda, agora Covilhã, estamos perante uma Beirã de gema?

Não sou beirã de gema, mas assim me considero.

Falemos agora de competições: Corda ou só bloco? E que importância têm para ti?

Gosto e sempre gostei de ir as competições, tanto de bloco como de corda, apesar de gostar mais das competições de bloco. Foi nas competições que os meus horizontes de escalada alargaram. Ver a garra e motivação dos seniores, o convívio entre todos, a boa disposição! Muito bom… e dá sempre para aprender mais um pouco.

Quais foram os teus melhores resultados até à data?

Os melhores resultados foram os primeiros lugares que consegui, mas o que mais me orgulho foi um 3º lugar, pois foi a primeira vez que subi ao pódio. Foi numa prova de Soure e essa mesma deixou-me motivadíssima!

Primeiros lugares, sempre nos escalões juniores, não? Já competiste nos seniores?

Nos escalões de iniciada e juvenil. Só competi como sénior em duas provas e fiquei em ambas em segundo lugar.

Como vez o panorama competitivo por cá?

Penso que antes o pessoal se sentia muito mais motivado para ir as competições, agora são poucos os escaladores que as frequentam… já estive em competições em que nem devíamos chegar aos 20 escaladores (a contar com todos os escalões)! Também esta difícil organizar uma prova que esteja ao agrado de todos pois há pouco dinheiro e isso dificulta a sua organização. É triste ser assim…

Deixemos as coisas tristes, então, e voltemos à Serra. A Serra da Estrela e o granito são o amor da tua vida ou é apenas uma opção de proximidade, que rapidamente trocarias por uma falésia calcária da moda?

NUNCA trocaria o meu tão adorado granito ahahaha. Gosto muito de escalar em granito, é completamente diferente, claro que também não digo não aos outros tipos de rocha, mas se me perguntarem qual gosto mais, a resposta é imediata: granito. Talvez seja por estar habituada…

Há quem diga que é a rocha rainha…

Concordo ahah.

Na tua página do Facebook aparecem como referências na escalada Paul Robinson e Adam Ondra, o que me parecem escolhas bastante óbvias, mas nenhuma rapariga… há alguma razão para isso, não conheces nenhuma que te sirva de referência?

Não, pelo contrário. Uma grande referência para mim é a Lisa Rands. Gosto muito da garra dela, não desiste do problema que tem à frente e tem muito boa disposição. Digo isto pelos filmes que vejo, ahah, porque escaladoras que conheço, gosto muito da nossa kimie.

Ha…a bouldering diva, Lisa Rands,…é daí que vêm as tuas famosas unhas?

Ahaha não! As minhas coloridas unhas vem de tempos que eu ainda nem conhecia a Lisa.

Precisamente as unhas. Não achas o bouldering muito agressivo para as delicadas mãos de uma donzela, como lidas com esse problema? Digo isto porque, no geral, as raparigas costumam queixar-se muito da agressividade do granito e gostam de rochas mais “soft’s” como a arenisca…

Eu não acho o granito muito agressivo. É uma questão de habituação, só custam os primeiros dias porque a pele não esta habituada. Bem… se uma rapariga é escaladora tem de deixar as mãozinhas de donzela de lado. Os calinhos aparecem sempre, mas isso não impede de pintar as unhas e dar um toque feminino à escalada, são manias…. Claro que um cremezinho depois de escalar também faz bem. E, ainda mais: o verniz protege as unhas da agressividade do granito, ahah, só para concluir!

Hum…recomendas verniz à rapaziada, então?

Ahahah, eles não iam gostar muito da ideia, por isso não recomendo senão deixam de me levar para a rocha com eles!

Muito bem, obrigado Sara. Para acabar, qual é o próximo bloco da tua lista?

Já está a acabar? Óptimo, porque daqui a nada vem cá buscar-me para ir à serrinha, eheh, os próximos a serem meus são o Super Licença (Covão Cimeiro) e o Rosa Negra (Pedra do Urso)!

(18/08/2011; entrevista por Sérgio Martins)

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