Banco de Ensaios

 

Border Country

“Sometimes a climb is just a climb…sometimes is more than that.”

Oito minutos de filme, para uma história enorme. Border Country documenta um ano na vida de Jeremy Collins, um artista, ilustrador e claro escalador. A acção começa na Patagónia e segue até Yosemite envolvendo no processo a abertura de uma via numa placa gigante mesmo em frente ao El Captain. Uma parede aparentemente virgem de vias, uma espécie de patinho feio ofuscada e esquecida devido à sua vizinhança com o Grande Capitão. Mas, que para estes escaladores tinha o nível, dificuldade e compromisso à medida da sua imaginação e ambição. Por isso meteram-se desde abaixo, como mandam as regras, e foram desbravando o terreno, metendo no processo mais de 70 pernos, à mão, pois em Yosemite é proibido usar máquina.

O filme, ou curta-metragem, pois estamos a falar de uma verdadeira curta-metragem aqui, não é especial pela via, é especial pelo recurso a técnicas de animação, com sequências brilhantes e desenhos, alguns deles, belíssimos muito bem conseguidos.

Assistimos também, segundo os próprios autores, a uma tentativa de mostrar e trazer para o filme alguma alma ou “soul” aliada à própria escalada.

Somos assim forçados a entrar no terreno pantanoso de tentar perceber e definir o que é a “alma” da escalada em si. Desejo, imaginação, tenacidade, força de vontade, sentir na pele a fúria dos elementos, viver e morrer pela necessidade de percorrer planícies verticais. Poderá ser isto a alma da escalada? Não se sabe, a resposta está em cada um. Mas é inegável que estes oito minutos mostram-nos um pouco disso.

Uma noticia inesperada a meio da noite, provoca uma súbita mudança na narrativa. Passamos a assistir a uma espécie de tributo a Jonny Copp e Micah Dash que morreram sob uma avalanche na China.

As cinzas do “homem pássaro” são levadas pelo vento de Yosemite e o seu espírito reflecte-se no premonitório poema que escreveu no dia anterior à sua morte. Na melhor sequência, o poema transborda do diário e afirma-se para dar o nome à via em si e uma espécie de sentido ao filme.

Animação, vídeo, fotografia, música e poesia, numa aliança fora do comum, muito fora do comum mesmo, no mundo da escalada. Uma maneira diferente de documentar uma experiencia. A meu ver com resultados plenamente conseguidos.

O filme pode ainda ser encontrado na plataforma multimédia da Patagonia a Tin Shed juntamente com outros vídeos e histórias de escalada, alpinismo, surf, viagens de bicicletas etc. A Tin Shed é uma espécie de recriação digital do barracão onde Yvon Chouinard forjou os seus primeiros pitões com ferro de um velho Ford modelo T.

Para quem quiser saber mais pormenores existe um making of no vimeo, que como todos os making of’s estragam o prazer de ver o filme. Embora traga alguma luz ao processo técnico de fazer uma obra deste género e dá também a dimensão do trabalho envolvido, que é imenso.

“Sometimes a climb is just a climb…sometimes is more than that.” SM

  

Origins. Part I, JTree

A Sender Films juntamente com a BigUp Productions , patrocinados pela Evolv e a Mountain Gear , lançaram uma nova série webtelevísiva: a Origins. O primeiro episódio foi lançado no Youtube de forma gratuita, não havendo garantias no entanto que os próximos seguirão o mesmo rumo. Esta nova série tenta focar a história da escalada fazendo a ponte entre duas gerações de escaladores, usando como elo de ligação uma via icónica.

O primeiro episódio leva-nos a Joshua Tree onde Chris Lindner, uma das primeiras crianças prodígio da escalada, tenta repetir uma via de Kurt Smith, um dinossauro da escalada americana com uma actividade marcante e prolífera do bloco ao Bigwall.

A via, um “horror show from the past”, nas palavras do próprio Kurt, foi aberta em 1988 desde abaixo e desde então ainda não vira uma repetição, muito por culpa de um bizarro movimento que mistura um mantle, um passo de ombro e um cruzamento. Uma maravilha da imaginação e contorção.

Esta série, tal como a Season já aqui apresentada, tenta assentar em pressupostos diferentes do tradicional vídeo de escalada centrado na acção. Assistimos à tentativa primitiva de introduzir um argumento. Objectivo mais conseguido na Season, série mais ambiciosa quer em termos de âmbito quer em termos de desenvolvimento emocional das personagens.

Na Origins, embora o argumento seja extremamente simples, é suficiente para constituir uma narrativa, centrada num conflito, o confronto de gerações, e sua resolução, o encadeamento da via.

A via é bem escolhida, e serve para firmar estereótipos de circunstância: nos anos 80 as vias eram placas com movimentos bizarros, que os escaladores novos actuais acham extra-duros e impossíveis de avaliar – nas palavras do próprio Lindner –.

Por outro lado o escalador novo, moderno se quiserem, é apresentado a fazer bloco, onde mostra algumas habilidades circenses. Mas serão suficientes para resolver o “ horror show”? Não tardamos em ver e perceber.

Temos assim, personagens bem definidas e os géneros de escalada bem contrastados, pois as imagens de bloco servem de contraponto perfeito à própria bizarria da via.

Ao nível da construção e fotografia o vídeo é exemplar e cumpre a função, de forma notória, de servir o argumento, sendo o decor, JoshuaTree, uma aposta ganha à partida.

A história da escalada é rica, e fornece histórias e épicos para todos os gostos, e tendo a escalada desportiva mais ou menos 30 anos, atingimos um momento em que varias gerações se cruzam e interagem, sendo por isso o timing para estas histórias mais do que perfeito.

Diz-se à boca pequena, isto é na net, que o próximo par será a Lisa Rands e Peter Croft, um estranho par. Será interessante ver que via servirá de elo de ligação entre os dois.

Na senda da Seasons, Webvideo de qualidade e grátis. SM

 

The Season

Esta é a época. E, de facto, esta época ou temporada, está a ser muito interessante em termos de produção de conteúdos vídeo para a web. O conceito de produção para distribuição gratuita na net – um pouco o caminho que tentamos percorrer de forma amadora aqui – ganha terreno, com produções a surgirem um pouco em todo o lado.

Levando as coisas um pouco mais longe temos agora um novo conceito, no mundo da escalada ou do outdoor se quiserem, uma série de 22 episódios produzida e pensada como “webtelevision”.

Criada por Bryan Smith e Fitz Cahall, que são também os autores do The Dirtbag Diaries um original site com historias em formato de podcasts. Histórias escritas narradas e sonorizadas pelos próprios ou por ouvintes tendo como pano de fundo o mundo da montanha.

Esta série webtelevisiva, um bonito neologismo, conta as histórias de cinco personagens, a que eles chamam atletas. Nunca gostei deste termo aplicado à escalada ou desportos outdoor. Imaginem, “conta as histórias de cinco atletas”…, e começamos logo a ver o Fernando Mamede a falhar mais uma medalha ou o Carlos Lopes 20 anos depois de LA, com o dobro do tamanho, a explicar o que sentiu quando deixou John Tracy e Charles Speddeing a comer asfalto ao km 37…enfim histórias do atletismo.

Temos então cinco personagens: um escalador tradicional, um snowboarder, uma escaladora de bloco, um moutainbiker e um kayaker. Tendo como ponto de partida e motores da narrativa as suas histórias e vivências pessoais, todos se comprometem com a época que aí vem em busca de uma redenção, um sentido para a vida ou simplesmente passar um bom bocado a fazer o que mais gostam. A ideia da série é seguir as suas aventuras ao longo de uma temporada no Pacific Northwest, EUA, tentando, segundo os autores, focar a paixão pela actividade que praticam, e não a fama ou recompensas monetárias. E, nesse sentido, temos profissionais e amadores misturados nos famosos cinco, Tim, Ana, Zé…ok esqueçam.

A origem no Dirtbags Diaries é importante, pois a grande mais valia desta série parece ser um argumento consistente, baseado em cinco histórias, de cinco pessoas de carne e osso e não cinco personagens de banda desenhada em que são muitas vezes transformados os escaladores nos filmes de escalada. Pessoas singulares, com defeitos, aspirações, demónios interiores e vidas comuns, humanos portanto.

Totalmente filmada em HD, as imagens são deslumbrantes, precisas e profissionais. O cenário do Pacific Northwest torna as coisas fáceis também. Imaginem a mesma série filmada na Serra de Valongo. Pois é! Eu sei. É mais o filme “Balas e Bolinhos”.

Para já saíram seis episódios, um geral de apresentação e os subsequentes onde as personagens se vão apresentando. O terceiro será talvez o que desperte mais curiosidade aos leitores desta página, uma vez que trata de bloco com uma história pungente de uma escaladora que tenta recuperar a sua forma depois de nove operações ao joelho esquerdo. Sim, simplesmente tentar voltar à escalada e não escalar a ou b cotados de x ou y, simplesmente escalar porque o corpo mesmo massacrado parece já não saber fazer outra coisa.

O sexto apresenta o escalador tradicional ou clássico, e tem um momento circense de cortar a respiração logo a abrir. Mas o objectivo central ou motivo é construir um novo entalador ou friend para tentar resolver um problema específico de uma via com uma perigosa expanding flack. Pouco comum e interessante, este argumento fez-me lembrar o famoso “Boni” um entalador mecânico desenvolvido pelo escalador de Vigo com o mesmo nome, nos anos 70 ou 80 não tenho a certeza, para as fissuras gigantes da Peneda. Todo um programa…engenho e adaptação sempre acompanharam a historia da escalada e nem sempre nos sítios mais óbvios.

Apresentados os magníficos cinco, o meu episódio favorito até agora foi o do kayaker, mas todos são interessantes e cumprem o objectivo de prender o webtelespectador.

A mecânica é a seguinte: Todas as semanas um episódio novo estreia no site da Arc’teryx e sempre que entra um novo o anterior passa para site da série e para o Vimeo onde ficam todos alojados.

É gratuito e é bom. A net no seu melhor.

Pure, a Bouldering Flick

Uma viagem incrível pelo mundo do boulder. Rocklands, California, Fountainbleau, Aústria e por fim a incontornável Suiça. Com um elenco forte, Nalle Hukktaival, Killian Fischhhuber, Ana Stoehr e os irmãos Fred e François Nicole, somos presenteados com boas linhas e movimentos de pura beleza.

É sem dúvida um filme muito bem explorado a nível de imagens e cor, apesar de excessiva saturação cromática, uma imagem de marca do realizador Chuck Fryberger. A música escolhida oferece outra relevância a essa mesma viagem. Muito bem escolhida e adequada dá outro sentimento ao filme, apesar de falhar em alguns segmentos. É o caso do tema que acompanha o escalador finlândes no bloco The Island em Fountainbleau, dando a sensação de que a música não acompanha a linha em causa.

“Bouldering is the purest form of climbing.” Quem o diz é Nalle Hukktaival, um dos escaladores mais fortes do momento e com exclusiva dedicação ao bloco. Dotado de uma força inumana, somos bombardeados com uma chuva de blocos do V9 ao V15, entre eles, dois dos blocos considerados mais duros no mundo: The Island (V15) aberto pelo Dave Graham, em Maio de 2007 em Fontainbleau e, Amandla (V15), que significa Poder, abertura e primeira ascensão de Fred Nicole em Agosto de 2005.

Este mesmo, Fred Nicole aparece uma única vez no filme demonstrando, como sempre, um estilo de escalada impressionante, dando a ilusão de cristalizar cada movimento à medida que se move bloco acima. Associado ao nome Nicole, aparece também o seu irmão François Nicole. Engane-se quem pensar que este é apenas mais um escalador que vive por trás do nome. Escalador exímio de V13 e 9a+ de via, não deixa qualquer dúvida em relação ao seu potencial. Aparecem destacadamente na Suiça, zona de onde são originais.

Já na Aústria, acompanhando as aventuras de Cody Roth, juntamo-nos aos escaladores aústriacos Killian Fischhhuber e Ana Stoeher. Ambos contam com vitórias no campeonato do mundo de bloco mas, ao contrário de muitos escaladores deste nível competitivo, dizem que não se imaginam sem escalar em rocha.

Kevin Jorgeson aparece, mais uma vez, associado aos highballs. Agora, numa zona secreta em Sonoma County, California, aparece num bloco/via classificado como 5.13a, 7c+, e outros blocos marinhos, um spot que não convence muito.

Apesar de alguns detalhes, Chuck Fryberger realizou um óptimo trabalho com este filme. Sabe-se que anda a preparar outro, que contará com uma extensa entrevista a Fred Nicole. Ficamos ansiosamente à espera.

Curiosamente, este filme chegou a Portugal pelas mãos do representante da La Sportiva, numa espécie de cinema improvisado no bar Labirinto, situado no Porto, oferecendo outro tipo de impacto numa projecção deste género. No final, um sortudo foi presenteado com um par de La Sportiva Speedster, as novas bailarinas da marca. Um final feliz? Filipe Carvalho

Um dos sítios possiveis para adquirir este dvd é aqui. Ou Download em HD aqui.

Ópera Vertical

Patrick Edlinger. Quem? Perguntam os nascidos nos anos 80 ou 90. Ha! Dizem os outros. Mito vivo, principalmente em França, é a imagem colada ao nascimento da escalada desportiva no início dos anos 80 e o protagonista dos filmes Ópera Vertical, La Vie Au Bout des Doigs e muitos outros.

Vem isto a propósito de quê? Bom, sendo este um site assente na imagem videográfica, é normal que exploremos as suas origens. E, estes dois filmes estão na origem, quer da escalada desportiva, quer dos filmes de escalada. Recentemente foram editados em DVD, uma peça fundamental para os colecionadores do género, e também estão disponíveis no Youtube embora em péssima qualidade.

Realizados por Jean-Paul Jansen em 1982 são talvez os filmes de escalada, pelo menos na Europa, mais influentes de sempre. Revelando ao Mundo uma nova disciplina que se viria a impor, para o melhor e para o pior, nos anos subsequentes: A escalada desportiva.

Olhemos mais especificamente o Ópera Vertical. A abertura viria a tornar-se clássica, o escalador e os seus atributos físicos: a elasticidade e a força, com exercícios – a famosa Bachar ladder e a slackline – e estilo importados directamente do Camp4 para o Verdon. Depois, passamos para falésia mais propriamente para a via L’Ange en Décomposition, onde Patrick vai explicando em off o que é a escalada desportiva, fala de cordas e quedas e sem mais, manda um mega “balde”, consta que estourou o tornozelo, mas impávido, responde quando Jean-Paul Janssen, atrás da câmara pergunta: “Ça va Patrick? Tu t’es pas fait mal au moins? “…Moi?! Non, non! Impeccable!…” . Esta conversa entre o camaraman e o actor/escalador destina-se a instruir o espectador explicando o que acaba de acontecer. Esta espécie de diálogo é uma marca do cinema documental de cariz jornalístico, que é a origem do próprio realizador, um camaraman muito experiente que esteve na Guerra do Vietnam, onde por exemplo, participou numa famosa entrevista a um piloto americano detido numa prisão Vietcong que era nada mais nada menos que John Mccain o futuro candidato republicano às eleições presidenciais americanas de 2008.

Temos assim uma equipa de realização, literalmente suspensa, incluída no próprio filme, tornando-se parte do espectáculo. Essa postura foi posteriormente abandonada no cinema/vídeo de escalada, à medida que este se foi aproximando de um conceito mais clássico.

Estes filmes são claramente destinados ao grande público, daí a necessidade de estar sempre a explicar em voz off como as presas são pequenas e os equilíbrios são precários. Esta explicação dá o contexto. O perigo e a vertigem de uma falésia de 200 metros fazem o resto. E, para maximizar as emoções temos, perto do final, o truque perfeito. Edlinger é descido para as profundezas do abismo. Faz subir o baudrier, os pés de gato e começa a famosíssima sequencia: o solo integral descalço da via Débiloff . Quando emerge do vazio e o filme acaba a escalada nunca mais será a mesma.

O “Ópera Vertical” tem uma penetração nos meios fora da escalada, sem precedentes e sem comparação com o que se passa actualmente. Se não acreditam, reparem nesta história edificante: Ouve uns tempos, até me custa contar isto, em que a televisão falhava. Sim. Falhava. Imaginem: Está a família tranquilamente a ver o telejornal, e de repente a emissão vai abaixo, deixa de haver sinal do estúdio, então, têm de meter um separador. E o que era que metiam? Pois é. O “Ópera Vertical”. De repente em todos os lares de Portugal aparecia um gajo loiro a escalar descalço e em solo integral, no – viria a aprender muitos anos depois – Verdon. Eram imagens hipnotizantes e muito para alem da compreensão.

Hoje essas falhas técnicas já não acontecem e a escalada foi para sempre banida do prime-time para nunca mais voltar. Mas o mito ficou.

Qual a influência do “mito Edlinger” e dos seu filmes na escalada portuguesa? Dizem por aí que a Catalunha está cheia de clones do Sharma, os colares, o corte de cabelo etc. Por cá só me lembro de um clone do Edlinger: O “Edlinger da Guarda” de seu nome Murzanga. E de facto era parecido, alto, delgado, uma cabeleira a preceito e com feitos “escalatórios” mitificados, disseram-me uma vez, por exemplo, que o Murzanga fez a placa dos Fantasmas em solo integral e sem por as mãos na rocha!

Bom, fait-divers à parte, toda a gente queria escalar como o Edlinger, e se nem todos podíamos ser altos, delgados e gadelhudos, podíamos tentar usar ao máximo o sua famosa pose: a grenouille ou posição de rã, movimento mítico dos anos 80 que com o advento da escalada em extraprumo foi remetido a curiosidade histórica. E, ainda bem pois usar aquela posição, movimento sim, movimento não, revela-se tudo menos prático.

Um mito, ou quando os feitos de um escalador transcendem a realidade nas nossas imaginações. Porque precisamos ou criamos estas personagens, meios homens, meios deuses? Se a viagem de Ulisses pode simbolizar a inquietude masculina. Estes mitos da escalada simbolizam a inquietude do escalador comum, órfão do modo de vida, da força, da técnica e dos feitos destas estrelas de pedra. SM

Progression

progression

O novo filme da Big Up productions, segue a mesma linha dos outros que ficaram para trás. Encadeamentos duríssimos atrás de encadeamentos duríssimos, que deixam qualquer um de boca aberta. Qualquer escalador fica fascinado quando vê o Daniel Woods a lançar para uma réglette inexistente e a ficar lá suspenso por apenas um braço. É daqueles movimentos impensáveis! Qualquer um gosta de ver o Sharma a escalar, aliás digam-me um filme da Big Up Productions em que ele não tenha aparecido.

Chris Sharma, Paul Robinson, Daniel Woods, Tommy Caldwell, Kevin Jorgeson, Patxi Usobiaga, etc. Que elenco de luxo! Sítios paradisíacos como as Rocklands na África do Sul, Bishop e Yosemite na Califórnia, Oliana e Siurana em Espanha, aguçam o interesse do mais incauto que, vendo estas aventuras e feitos acaba por ficar com água na boca e também quer um pedaço daquele bolo.

Temos rocha e temos plástico onde quem brilha é Patxi Usobiaga. Sem qualquer dúvida, um escalador biónico! Treinos super estruturados, completos e cientificos levam a uma nova geração de escaladores. Vê-se o papel da ciência no treino, e a vontade, motivação e esforço extremo aliados a um desejo de vitória. Mas na minha opinião, a frase proferida pelo mesmo, “Rock Climbing is easy, competitions are complex and intense”, esbarra no ridículo. Não tenho qualquer dúvida sobre a complexidade e intensidade de uma competição e existem movimentos que apenas podem ser criados na resina, mas a escalada em rocha nunca foi, nem nunca será fácil, esta frase simplesmente está invertida.

Como sempre falta mostrar o trabalho que está por detrás disso tudo, o tempo que o escalador perde numa via. Esse trabalho só é verdadeiramente mostrado em filmes como o “Fanatic Search”, onde aparecem o Chris Sharma e o Dani Andrada a trabalhar uma via vezes e vezes sem conta, onde aparece o Sharma a trabalhar um único passo dias seguidos. Só aí temos uma certa noção de tudo o que está por detrás daquele escalador em especifíco.

No excerto do Tommy Caldwell – sem sombra de dúvida, um escalador perfeito do bouldering à clássica – é apresentada a via Mescalito, no El Captain, algo incrivelmente estético, e com toda a certeza duríssimo: Problemas de bloco, dinâmicos, lançamentos, réglettes invisíveis, atestam a visão deste escalador de uma humildade impressionante. Por estes dias, o Tommy Caldwell uniu esforços com o Kevin Jorgeson para tentarem libertar este projecto futurista, quem quiser pode seguir a acção aqui. E, este último aparece no vídeo, mais destacadamente, no seu famoso bloco: Ambrosia. Um bicho de 15m, com um iníco entre o V11/V12 de réglettes mínimas que levam a um hueco a 6m do solo. Problemas como este normalmente acabam com um drop off, neste caso a decisão de seguir para cima confronta o escalador com um solo de 7c+, numa zona onde a queda é proibida, introduzindo um novo conceito: O highball free solo e aqui podemos resvalar outra vez para a polémica do que deve ser ou não gravado, o que deve ser mostrado ou não. Ver o Matt Segal cair na Kaluza Klein e a bater no chão alimenta o desejo de perigo que muitos escaladores procuram. Mas, não terá isto uma repercussão mais grave e preocupante? As novas gerações que, a pouco e pouco começam a dar entrada no mundo da escalada, deixam-se fascinar por este tipo de filmes e fica sempre o pensamento “eu também consigo fazer aquilo!”. Ver o Alex Honnold fazer a Gaia em solo com uma certa “facilidade”, faz-nos acredita que, se calhar não é assim tão difícil.

Mas esta problemática leva-nos de volta ao post “Highballing ou Free solo?”, por isso, voltando ao filme pode-se dizer que a exploração das imagens, da luz, de novos ângulos, dos efeitos e da própria música, tornam-no muito especial, atribuindo-lhe uma qualidade excelente, como os filmes da Big Up Productions nos têm habituado. Mas, como já tinha referido, segue um conceito recorrente: Encadeamentos atrás de encadeamentos, linhas super duras sem mostrar o verdadeiro trabalho que está por detrás desse encadeamento e por último a exploração máxima da fama do escalador.

No geral, o filme não é mau, e a sua visualização é mais do que aconselhável. Filipe Carvalho

O Filme está disponível em DVD ou para download em HD no site da Big Up Productions.

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