A Representação Fílmica da Escalada

filme NB 1

Não se deixem enganar pelo pesado título, na realidade estamos a falar de pornografia. Em trinta e tal anos de existência a representação fílmica do nosso desporto preferido pouco evoluiu para além da pornografia, não que a escalada esteja directa e literalmente ligada à representação fílmica do sexo, deus nos livre, mas a ponte, não a ponta, é feita pela ausência de argumento ou estória nos dois géneros de filmes. Uma coisa que nunca afligiu muito os realizadores e espectadores destas duas artes especializadas na representação, explícita e sugestiva, de actos que geralmente estariam confinados à privacidade da alcova e das montanhas. Nunca afligiu até agora, porque ao que parece assistimos hoje ao alvorecer de uma nova espécie, os “contadores de histórias”.

Vem isto a propósito de um pedido feito aqui à casa, no contexto de um artigo sobre um subgénero dentro de um subgénero: os vídeos de treino de escalada. Pedido esse a propósito ainda de alguns artigos surgidos recentemente pela net sobre o estado a que chegaram os vídeos de escalada, com algumas carpideiras a pedirem para o tempo voltar para trás, para os bons velhos tempos dos filmes grandes de uma hora ou mais, onde aparentemente existiam grandes histórias e narrativas comoventes com verdadeiras personagens/escaladores. Ao contrário dos dias de hoje com os abjectos vídeos de 5 minutos, carregados a cada minuto que passa no Vimeo ou Youtube, tendo como protagonistas escaladores profissionais, personagens de plástico e sem espinha dorsal que quando começam a falar é impossível de ouvir por mais de um minuto seguido e, pasme-se, com uma agenda comercial por trás, ou ainda pior, amadores a mostrarem os seus aborrecidos e, blasfémia máxima, fáceis vias e blocos.

Em primeiro lugar é preciso definir, ou procurar tentar definir, o que é um vídeo ou filme de escalada e pensar se pode ser inserido e criticado como um normal conjunto de “imagens em movimento”, que é qualquer filme ou vídeo, a separação, hoje em dia, é cada vês mais ténue, na sua essência. Nenhum vídeo de escalada, que eu conheça, aguenta uma crítica séria, mesmo leve, de cinema, por isso estar a discutir, ou chorar, que falta “história” ou argumento aos vídeos de escalada é uma falácia.

O filme ou vídeo de escalada tem de ser inserido numa subcategoria à parte, tal como os já referidos filmes pornográficos por exemplo, dos quais ninguém se queixa da falta de argumento e, já agora, não é por acaso que à generalidade dos vídeos de escalada se chama “climbporn”.

Esclarecido este ponto, podemos questionarmo-nos porque é que os vídeos de escalada não têm narrativa ou se a têm é muito ténue, do género: escalador conhece ou sonha com via; escalador tenta via; a via faz-se difícil e o escalador falha repetidamente; escalador entra num período de treino, na via ou no plástico, mais ou menos alargado; escalador tem êxito e consegue via. Muito raramente e em jeito de anti-clímax, o escalador não consegue a via e vai para casa de mãos a abanar, aí o final tem de ser onírico, ou gráfico com um arrepiante beijo de despedida na rocha, por exemplo. Temos ainda recorrentemente o que se poderá chamar de género roadtrip, que é um género conhecido e apreciado na narrativa cinematográfica, só que na escalada as inesperadas aventuras que geralmente são o sal da estrada, são substituídas por uma sucessão de vias e zonas, entremeadas por pacóvios passeios pseudo-turísticos.

Existe uma razão simples para isso, os filmes, de ficção e mesmo os documentários, antes de serem realizados são escritos e escrever um bom argumento dá trabalho e é difícil, e mesmo que se obtenha um bom argumento, uma boa e competente realização dá ainda mais trabalho e custa muito, muito dinheiro, num processo moroso e que exige meios e equipas muitas vezes fora do alcance de orçamentos limitados ou mesmo inexistentes. Tudo isto para que o resultado final possa ser considerado uma tentativa de filme.

Assim, em minha opinião, os filmes de escalada não evoluírem desde o seu inicio, nem regrediram como agora se diz, é mais ou menos mais do mesmo, não estou a falar na qualidade técnica das imagens que se conseguem obter, nesse campo a evolução foi avassaladora, ou do acesso a meios de produção portáteis anteriormente reservados a profissionais. Mas a qualidade técnica faz o artesão e não o artista, dominar uma técnica é um princípio e não um fim, num processo criativo.

Como é então que isto começou e onde para na actualidade.

Dizem os especialistas que a representação fílmica da escalada livre, e de certa forma, a escalada moderna começou com este filme, La vie aux bout dês doigts, do qual já aqui falamos a propósito do seu sucedâneo, o Ópera Vertical.

Os meios de produção são profissionais, a equipa de realização vem do mundo dos documentários. O filme recebe uma nomeação sem precedentes para os Cesar’s, prémios máximos do cinema francês, e claro teve uma divulgação massiva influenciando gerações inteiras de escaladores e, pelo meio, mudou a face da escalada.

Muita tinta corre e correu acerca deste filme. Eis, assim de relance, alguns aspectos principais. O impacto foi avassalador, sem comparação possível com a actualidade, recordemos que a escalada em rocha moderna acabava de nascer e emancipar-se do alpinismo, ou seja era uma coisa nunca vista. Os princípios que são vendidos neste vídeo são os princípios subjacentes à origem da escalada moderna e que hoje, apesar de ainda enraizados, não passam de resquícios: a escalada como “forma de vida” e não desporto, o nomadismo, a sacralização da natureza e da rocha como meio privilegiado de prática, o perigo omnipresente representado pela escalada em solo integral, apresentado como expoente máximo. Fundamentalmente, o escalador, aparece como ser anti-social, isto é, uma espécie de marginal que renega o materialismo burguês, eis, senhores e senhoras, a personagem de Patrick Edlinger.

[vimeo https://vimeo.com/52407123 w=700&h=393]

Trinta anos depois, temos isto. O escalador é agora profissional, bem integrado na sociedade, viaja pelo mundo inteiro suportado por uma indústria que embora incipiente permite o sustento a meia dúzia de trepadores mais dotados, que agora subiram à categoria de “atletas”. A escalada em solo integral é domínio de um ou dois “malucos” que dela vivem e, embora venerada, é renegada pela maioria e deixada nas mãos de meia dúzia de especialistas que de tempos a tempos abrilhantam o circo com novos “números” devidamente bem filmados para gáudio e frisson de uma plateia havida de emoções fortes que, obviamente, a asséptica prática moderna da escalada não proporciona. O escalador é agora então um atleta profissional que como na generalidade dos outros desportos tem um agente para lhe gerir a carreira e no caso dos competidores um treinador para lhe gerir os treinos.

O caso específico deste vídeo ilustra talvez o caso mais pós-moderno, aquilo a que poderemos chamar o “One Man Show”. Devido à evolução tecnológica, dslr’s com capacidade de captura de vídeo e software de edição pro acessíveis e relativamente fáceis de dominar, o atleta filma-se, muitas vezes tendo apenas por companhia um tripé, edita, produz e distribui para o mundo inteiro as suas performances e viagens. Eis senhores e senhoras a personagem de Paul Robinson, neste caso em turismo escalador por terras lusas.

O que aconteceu pelo meio, para chegarmos a este ponto? A evolução não foi instantânea como é óbvio.

Os anos 90 do século passado trouxeram-nos uma série filmes chamada Master’s of Stone, onde a escalada passou a ser “fun”, ou seja, como dizem alguns, o escalador veste a pele de palhaço num verdadeiro circo montado para entreter, podemos sempre trocar palhaço por performer e circo por show para não ferir susceptibilidades, dos palhaços obviamente. São cinco ou seis segmentos e quem os viu e conhece sabe do que estou a falar.

A meio caminho da mudança de paradigma entre a França e os Estados Unidos, fica como sempre a Inglaterra, um caso singular na filmografia da escalada. Os ingleses souberam reflectir nos seus filmes a singularidade da sua prática e produziram verdadeiros marcos, como o Stone Monkey, em minha opinião um dos melhores filmes de escalada alguma vez feitos, e claro o famoso Hard Grit, entre muitos outros.

No final dos anos 90 nasce, e não é por acaso que nasce nos filmes, o maior icon da escalada actual, Chris Sharma. Embora seja personagem presente nos últimos Master’s of Stone é, no entanto, um filme paradigmático que o leva para o estrelato, o Rampage, primeiro de inúmeros filmes centrados na sua pessoa e que tem como prato forte o Bloco, ou seja cavalga a onda do momento, a explosão da prática do Bloco na transição do séc. XX para o XXI, ou se quiserem a emancipação definitiva do bloco em relação à escalada desportiva.

Se os Master´s of Stone, são a mudança do paradigma do “sério” para o “engraçado”, para não dizer fun, com a explosão de um sem numero de actividades paralelas à escalada, cada uma delas mais mirabolante que outra. Com o advento do “fenómeno Sharma”, desde o Bouldering até à sacralização com a via Realization, assistimos ao regresso de uma grande personagem e a mais uma grande mudança na escalada. O movimento controlado e coreografado de Edlinger dá agora lugar ao movimento descontrolado, muito básico e raw mas tremendamente eficiente. A emoção, interior e controlada, do seráfico e impassível loiro, dá agora lugar a uma exteriorização expressionista com gritos selvagens a cada movimento, algo que Adam Ondra irá levar a outra dimensão. Onde um é zen, ascético e solitário, quase à imagem de um samurai, o outro faz-se acompanhar de uma efusiva entourage que o ajuda a exteriorizar as suas sensações de forma livre e sem controlo numa espécie de comunhão/celebração quase tribal, ou seja toda uma dinâmica de grupo bastante selvagem, que não é mais que a imagem de marca do próprio bloco. Em Rampage o carácter nómada e precário, logo “marginal”, ainda está presente, não por muito tempo pois no Dosage Sharma já surge a degustar um copo de rouge sentado confortavelmente à sombra da falésia de Ceuse. Muitos podem dizer que Sharma também é zen, praticamente foi criado num ashram, pratica meditação e toca flauta, mas já não é uma forma de vida é um complemento, e a sua escalada não reflecte isso, um dia de bloco selvagem está bem longe de uma aula de yoga. Mas o próprio contraste ajuda a dar alguma densidade à personagem que nos é servida nos diversos filmes em que é protagonista.

Do Rampage aos dias de hoje é o advento da internet que vai marcar o ritmo dos acontecimentos. A net vai permitir a divulgação imediata e em alguns casos viral dos vídeos, mas por outro lado impõe a sua tirania encolhendo as durações, de forma a que fiquem mais adequadas à utilização voraz dos internautas. A curta-metragem impôs-se como o formato dos nossos dias.

Esta é uma espécie de panorâmica, linguagem cinematográfica aqui, muito rápida da história do filme de escalada, um fast forward se quiserem, cujo intuito serve um pouco para ilustrar os pontos e ideia descritos no inicio do texto. Os escaladores filmam-se cada vez mais, produzem cada vez mais, tudo muito positivo pois é mais um meio através do qual as pessoas podem expressar a sua criatividade, se fazem filmes a sério, não, nunca o fizeram desde o inicio, e o começo foi muito bom. SM

Post Scriptum

Pedimos desculpas ao Rui Rosado pela resposta tardia ao seu comentário, mas o tema era tão interessante que, como sempre, levou a questões mais abrangentes que exigiram um pouco mais de pesquisa e visualizações de filmes perdidos na memória. Transformando-se aos poucos numa coisa mais ambiciosa que exigiu também um pouco mais de tempo para ser escrito e depois ser condensado num pequeno artigo pois o assunto é tema de tese e tem muitas pontas por onde se lhe pegar. Agradecemos, como sempre, o interesse e o pedido.

Ilustração: Vitor Baptista

19 Responses to A Representação Fílmica da Escalada

  1. Rui Rosado diz:

    Não são necessárias desculpas, tudo leva o seu tempo a ser feito.
    Valeu a pena esperar.
    Boa reflexão, a ler e reler;é de facto um assunto que dá pano para mangos, perdão mangas:)
    Keep up the good work, NB!

  2. topas diz:

    Espectacular artigo Sérgio.Muito interessante!!parabéns!!

  3. FCS diz:

    Bom texto, com alguns muito bons pontos de vista. A comparação com a pornografia é muito boa e daria para aprofundar sem cair no buraco do grosseiro. Assim, rapidamente, discordo do “sem espinha dorsal” e do “o começo foi muito bom”. A espinha, não sei se a têm ou não e concluir negativamente é abusivo, a verdade é apenas que não se a vê. Mas nos filmes porno também há coisas que não se vêem (não confundir com vêm) e não sabemos se estão lá ou não. Adiante. O começo foi muito bom só porque foi o começo e não por alguma qualidade própria, como nada havia como comparação foi uma entrada em cena ofuscante. Mas visto com distância, o Edlinger faz uma figura de uma espécie de anti-samurai em lycra, de uma nova seita que professa a escalada como salvação da alma, só que em vez de ajoelhar a um deus qualquer, faz uma espargata sobre dois rochedos fálicos… é duvidoso como exemplo de vida a seguir.

    Talvez na “representação fílmica da escalada” tivessemos que começar por Leni Riefenstahl e com alguns filmes de montanha. Mas provavelmente também não seria aí que iríamos encontrar o “cinema” na escalada. Talvez por uma razão muito simples, a escalada, sendo acção, não tem um argumento “filmável” para além do básico habitual “esta via/pedra é boa, quero trepá-la”, ou seja, típico argumento de um filme porno. O que daria um argumento é o próprio escalador, mas aí até o Sharma é um péssimo actor quando fala mais do que 30 segundos seguidos. Se querem cinema vai ser preciso mandar os escaladores estagiar em Hollywood…

  4. nortebouldering diz:

    Obrigado Rui Rosado e Topas, Filipe obrigado também pelo agudo comentário, chamar aos vídeos de escalada “pornclimb” é uma ideia bastante generalizada e antiga, por razões óbvias. Só esclarecer uma coisa: quando falo em “sem espinha dorsal” , são frases e comentários da vox populi que circula por aí na net em resposta aos artigos citados por mim (e pelo Rui), são criticas abusivas que surgem por aí às personagens dos pro’s climbers.
    É complicado olhar para o filme do Edlinger à luz dos nossos dias, e é facil ridicularizar, muito fácil mesmo, um homem adulto em licra nunca pode ser levado a sério. Mas…a verdade é que foi levado a sério, a verdade é que teve e tem milhares de seguidores, e influenciou toda uma geração e muito à custa destes filmes que agora poderão parecer ridículos e a verdade é que tentava vender um ideia, valha-nos isso ao menos, hoje tentam vender-nos um saco de magnésio…
    O cinema de montanha existe à bem mais tempo, claro, mas aqui fala-se da escalada moderna, e este filme do Edlinger é também consensual como sendo o primeiro, daí a referência, é já considerado um facto histórico.
    Existem suficientes aventuras e boas histórias na escalada para lá da acção, agora fazer um filme delas é outra história… mas concordo com a ideia de o próprio escalador dar um bom argumento, mas a escalada é parca em gente para se conseguir arranjar um bom escalador/actor, e é parca em recursos para que um bom realizador fizesse um bom filme sem actores a sério…enfim estamos condenados à pornografia…os romanos conviviam bem com ela, por exemplo, e consta que até eram civilizados, bom depende do ponto de vista… mas obrigado por levantares a lebre neste noite de facas longas…

  5. FPereira diz:

    Ideias interessantes.
    Apenas uma observação relativamente ao exemplo escolhido de filme de “escalada” do Edlinger, efectivamente é um filme que fusiona precisamente porno e escalada. Primeiro porque temos de atentar à época em que foi produzido e à sua origem: 80’s, França, Jean paul Janssen (francês) e sabemos a reputação relativa da cinema franco, na sociedade portuguesa dos anos oitenta…
    Efectivamente, também, o próprio filme consuma a prova naqueles trechos da película em que o protagonista, após confeccionar um chá apresenta aos espetadores, os glúteos, a próstata e algo que parece um ponto de encordamento ou uma extremidade de corda à vista.
    Em alternativa, um filme “tipo” a propor poderia ser talvez o “Scream of stone” do M. Herzog ou uma particular seleção de documentos da L. Riefenstahl em áfrica…

    • nortebouldering diz:

      Bom ponto de vista, o “La vie au bout des doigts” não podia passar sem alguem referir a famosa sequência do chá…
      Mas o conceito de “pornclimb” ainda não existia na altura, o que só vem reafirmar o conceito de que “o começo foi muito bom”, isto é foi realmente pornográfico, mais gráfico do que porno, antes do tempo.

      Quanto ao “Sream of Stone”, um filme bem posterior, eu colocaria numa categoria à parte. Uma categoria bem especial, em que o “cinema” aborda a escalada, e esse é mais um tema com pano para mangas, e embora este seja um filme em que se procura abordar a escalada, e o alpinismo, de forma mais séria, tendo o Stefan Glowacz como um dos protagonistas, e talvez possa ser mesmo considerado como um dos melhores filmes em que a escalada é tratada pelo “cinema”, a isso não será alheio o facto de o filme estar fora do sistema de Hollywood, para mim, repito para mim, é um dos piores de Herzog, um realizador de que gosto bastante.
      Mas é uma questão deveras interessante trazeres este filme à luz, pois é de facto um caso em que um bom realizador, pega num bom escalador e tenta fazer um filme de ficção, agora será o resultado um bom filme do ponto de vista de um escalador? Esperam-se comentários de quem já viu esta pérola.

  6. José Abreu diz:

    Excelente artigo.

    Já agora será este o futuro?

    http://tv.esquire.com/videos/70584-brian-arnold-at-the-american-ninja-warrior-2013-national-finals-stage-3

    Um “remake” de “jogos sem fronteiras” misturado com uma espécie de “Elo mais fraco”

  7. Pedro Rodrigues diz:

    Peter Mortimer da Sender Films e Josh Lowell da Big Up Productions abordaram recentemente, numa entrevista concedida à LouderThan11, algumas destas questões.

    Opiniões avalizadas de quem tem mundos e fundos (por mérito próprio) para ir além da pornochachada. No entretanto, contentemo-nos em ser Sá Leões de meia tigela.

    http://climbingnarc.com/videos/lt11-tv-live-talkshow-2-91913-reel-rock-8/

  8. VBaptista diz:

    “Dizem os especialistas que a representação fílmica da escalada livre, e de certa forma, a escalada moderna começou com este filme, La vie aux bout dês doigts, do qual já aqui falamos a propósito do seu sucedâneo, o Ópera Vertical.”

    Este filme também começa com uma musica de uma das bandas pioneiras da musica electrónica, “The Robots” dos Kraftwerk, 1977.

    Engraçado no final do filme não mencionarem a banda sonora…

  9. nortebouldering diz:

    Bem visto, um pormenor interessante que só o ouvido de um especialista poderia detectar…

    • VBaptista diz:

      Correcção:

      Kraftwerk sim, do album The Man-Machine, mas de 1978 e não 77.
      abre com The Robots e pelo minuto 8, quando Edlinger começa a correr de calcinha branca a fazer lembrar o Chuck Norris passa a faixa “The Model” do mesmo album, mas sem voz (será a escolha de propósito?!!!).

  10. Rui Rosado diz:

    Gostaria de acrescentar duas notas ao comentários:
    1-Tecnologia vs realismo vs realidade
    Ficou-me gravado na memória uma cena em que Edlinger escala pelo meio de grande tripé horizontal instalado a grande altura com um tipo pendurado com uma grande câmara a filmá-lo e depois o Le Blonde cai para o vazio. Hoje em dia pode-se fazer o mesmo com um iphone e um pau de vassoura. Quero com isto dizer que de facto em termos tecnológicos a captação e edição de imagens evoluiu muito. Diria que o futuro se sobrepôs ao presente. E esta evolução parece que permitiria mostrar uma imagem mais realista da escalada. No entanto os slow motion, fast forward, time-lapse, travellings etc apesar de darem realismo à acção deixam de a tornar real. Corta-se com a veracidade, mostra-se algo mais espectacular mas artificial, hollywoodesco. Quando vou para a falésia o céu e as nuvens por cima de mim não discorrem em time lapse, nem quando vejo um escalador a fazer um lançamento de repente o seu voo ocorre em câmara lenta até ele chegar à presa e tudo volta ao normal e a banda sonora daquele dia volta a subir. Enfim já não me parecem filmes parecem-me hipérboles e em HD.
    1.a – Mas na realidade encontra-se uma escola de escalada sobrelotada, com beatas, cascas de banana, cagalhões,cães a mijar a nossa corda, vias patinadas e 95% de presuntos pendurados no fumeiro, que de uma forma estranha escapam à maioria dos filmes.
    2- Me, myself and I
    Como diz um amigo meu” – Já chega de falar sobre mim. vamos falar sobre si.- O que pensa sobre mim?” Ok é um desporto egoísta eu sei, e eu e com a minha câmara faço um filme sobre mim para eu ver como escalo bem. Mas com a proliferação de produtoras de escalada, gostava de ver produções centradas não apenas sobre o escalador, mas também sobre locais de escalada. O foco mais sobre o local e menos sobre o individuo – ocorre me pensar que isso aconteceu no filme Roofless sobre Albarracin de que gostei bastante. Acaba-se sempre por enaltecer o escalador e não o pedaço de rocha que deveria ser “venerada” e que acaba por ser um pano de fundo em detrimento de um “jumento” que provavelmente daqui a 10 anos já não andará a escalar.
    2.a. Gostava de ver algo no género documentário, sobre o que pensam os escalador@s de determinada escola sobre esta, sobre os seus graus, o que pensam sobre os talhados, como passam um dia de escalada, mas sobre os verdadeiros escalador@s que se esforçam “à muerte” para encadear o seu 6c não sobre as vedetas. Enfim algo real sobre a realidade e não o circuswood cibernético do 8a nu e do vimeo et al.

    • nortebouldering diz:

      Bom comentário/desabafo

      O cinema, vamos chamar documental no caso da escalada, não representa o real, cria o real. E a realidade começa a ser manipulada de muitas maneiras, muitas vezes antes mesmo do filme começar: quem aparece, porque aparece, como aparece etc. Numa estética tipo casa de bonecas não cabe a realidade descrita no ponto 1a. Todos os efeitos referidos no ponto 1 afastam o resultado final da estética do cinema e aproximam-no do vídeo, ou de clip de vídeo, mas na maior parte das vezes são experiências amadoras, ou maneiras de disfarçar a ausência de narrativa, um time-lapse pode ser um chouriço, ou pode ser uma maneira engraçada de percebermos que o tempo passou. Não podemos esquecer que um vídeo é também uma forma de expressarmos a nossa criatividade e experimentar-mos com os instrumentos tecnológicos que hoje estão ao alcance da nossa mão.
      O “Roofless” é de facto qualquer coisa, a zona ajuda, mas é o espírito que o atravessa que fica, o Pedro é um grande especialista na boa onda…captando muitas vezes aquilo que nos faz sorrir ao fim do dia, o que não é nada fácil…

  11. Rui Rosado diz:

    Desculpem as gralhas e erros de gramática, mas foi escrito um pouco à pressa.

  12. nortebouldering diz:

    http://eveningsends.com/2013/10/carlo-traversi-interview-heritage/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=carlo-traversi-interview-heritage

    Uma entrevista com Carlo Traversi, que, a propósito do seu novo filme “Heritage”, aborda precisamente o tema do “one man Show” nos videos de escalada

  13. sesa diz:

    Bom artigo e bom debate!
    Acredito que a oferta de videos de escalada ou onde a escalada é tratada não se limita apenas aos mais mediáticos/consumidos. A pornografia deve ser dos conteúdos mais procurado na internet, será pela mesma razão que os videos de escalada mais consumidos são os mais “pornográficos”?

    Em relação ao “Scream of Stone”, foi um filme que vi na televisão à muitos anos e ficou-me na memória, o que me fez revê-lo aqui há uns meses. Concordo com o Sérgio quando diz que está numa categoria à parte.

    Muito interessante o ultimo comentário do Rosado que lança uma série de desafios ideias.

    o gaston rebuffat apareceu antes do P. Edlinger a fazer filmes, e embora não tenha tido o mesmo mediatismo, na minha opinião tem muito interesse:

    • nortebouldering diz:

      Uma questão interessante sem dúvida. A questão do “pornclimb” é uma associação recorrente, no geral vista como pejorativa, e como já referi no artigo tem como base a falta de estória e de certa forma o conteúdo ser sugestivo, mas deve parar por aí. Não acho que os mais consumidos sejam os mais “pornográficos”, estes são é mais simples de fazer e logo haverá lugar a menos erros, uma tentativa de aproximar do cinema isto é acrescentar uma narrativa implica logo muitos outros factores que se não forem bem-feitos rapidamente fazem cair no ridículo e logo afastar os espectadores, logo manter as coisas na “pornografia” “é mais certo”, como dizem alguns…

      Claro que foram feitos muitos filmes, e bons, antes dos do Edlinger. Mas estes marcaram o advento da escalada moderna, isto é, em falésia e não em montanha. A representação fílmica da escalada começou muito antes, como é óbvio, com muitos exemplos que já foram aqui referidos.

      Uma questão interessante é o porquê de muitos não se reverem nos “filmes modernos”, será que existe um desfasamento óbvio entre aquilo que fazemos e aquilo que gostaríamos de fazer ou aquilo que projectamos como ideal…um pequeno exemplo só para apimentar… uma pessoa adora conduzir e conduz na estrada todos os dias para o trabalho mas…só gosto de ver vídeos de F1…

      Existe um desfasamento claro entre a realidade e a sua representação e nessa representação o processo de identificação do espectador, neste caso o escalador, é complexo ao ponto de considerarmos pornografia aquilo que estamos a ver…
      Obrigado Sesa pelo comentário, temos de marcar uma projecção do “Scream of Stone”, para se discutir estes temas…

  14. VBaptista diz:

    Agora já temos Escalada em directo… talvez o inicio do fim… Live Stream em Kalymnos.

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