Um pouco em antecipação ao “disco pedido” do Rui Rosado, fica aqui “isto” feito pelo Jeremy Collins. Sem mostrar nada de escalada poderá ter mais a ver com a escalada que qualquer outro filme, enfim cabe a cada um ver ou olhar, e deixar-se levar pelo poder das palavras. E, é bem verdade, “a million people with nothing to say, still equals nothing at the end of the day…” Por vezes basta uma simples frase, potenciada por um grafismo poderoso, para nos fazer parar e sorrir e sentirmo-nos menos isolados.
Quem achar que a abstracção poética é apenas areia atirada aos olhos cansados de encadeamentos alheios, eis mais abstracção poética, mas com montanhas como pano de fundo, para não ferir susceptibilidades. Nas palavras dos autores: ” um poema escrito para explorar o escape da cidade e encontrar não apenas a natureza mas a si próprio”. Há quem jure a pés juntos que as montanhas não servem para outra coisa.
“More than meditation,
or medication,
These are More than Mountains.”
Não sei porquê mas a poesia carregada de imagens e música de fundo e numa voz de reverendo teenager da seita “free-your-spirit-follow-me” não me comove… Talvez se tivesse visto isto mais à noite, com uma lágrima no canto do olho e depois de várias beers…
As boas palavras não precisam de muletas, nem de truques, nem de ênfases vocais duvidosos, são simplesmente nuas e ecoam no silêncio, pano de fundo necessário.
Pois…mas isto tem de ser visto à luz dos filmes de escalada e nesse aspecto é algo completamente diferente. E a poesia já de si um discurso “curto” casa muito bem com uma curta-metragem, é apenas uma forma de ser ouvida, poderá não ser a ideal, mas parece-me um casamento feliz. No segundo filme o “diseur” já está ausente, e causará talvez por isso, digo eu, menos urticária. Eu, pela minha parte, acho que um pouco de discurso, mesmo ao estilo “teen”, inflamado, não faz mal nenhum na aridez do deserto.
É isso! Temos então, que as curtas-metragens servem melhor aos filmes de boulder, as peliculas longas às vias de escola e as séries ao big Wall. O problema colocar-se-ia naqueles blocos que levam imensas tentativas, a ponto de começar a invadir o tempos maiores. Idem, no sentido inverso, cordadas como o Alexandre Arnaldo (Alex Honnold) e o Anus Florido (Hans Florine) quando pulverizam vias grandes em menos do que leva a expor um sketch de um Rv.mº teenager. Confesso que muita da profusão de videos “curtos” de introspectos etéreos (mesmo os de escalada) já incorpora a massa de ruído de fundo, e por isso já tem pouca da tal substância de “boas palavras” hiperventilada nos meios da especialidade. De todo, já nem nos cumovem nem nos movem o cú (para fazer melhor, por exemplo, claro está).
(esta figuração das “boas palavras” serem desnudas, realmente é capaz de explicar o carácter intemporal e universal do gosto por uma boa história)