O Zé não precisa de apresentações, se nas vias desportivas marcou a escalada nacional principalmente com o encadeamento da via Acção-Reacção, primeiro 8c em 2006, no universo das competições tem vitórias em todo o género de competições nacionais e inúmeras presenças internacionais, onde obteve até à data o melhor resultado de um escalador português. Mas, é nos blocos que o gostamos de o ver, e aí a sua presença no universo NorteBouldering é quase omnipresente desde o início, quando subia a pé para a Srª da Assunção com uma almofada de sofá às costas, até à actualidade com repetições e flash’s de peso em Corno de Bico e aberturas significativas no Covão Cimeiro, por exemplo.
Neste últimos anos sentimos-lhe a falta e quisemos saber o que era feito dele:
Que é feito de ti, José?
Ando por Lyon, França.
Emigraste?
Não, estou a acabar um mestrado na área da Engenharia Mecânica.
Há quanto tempo estás fora de Portugal e qual é que tem sido o teu percurso nesse período?
No inicio de 2009 fiz um estagio no sul do Brasil. Depois, após uma pequena passagem por Portugal, no inicio de 2010, parti para Barcelona para trabalhar num centro de investigação e por fim, em Setembro do ano passado mudei-me para Lyon.
Sentes-te parte da nova diáspora? Ou é tudo obra do acaso?
As coisas foram correndo e os timings foram batendo certo.
A pergunta ia no sentido se achavas que Portugal era curto de oportunidades, ou demasiado pequeno, tendo em conta que as coisas se agravaram muitíssimo desde então?
Não foi uma questão de falta de oportunidades, mas uma vontade de adquirir conhecimento de outros métodos e outras culturas, ou derivado de um velho hábito de querer fazer as coisas sempre da maneira mais difícil.
Achas que é um defeito/virtude dos escaladores procurarem sempre o mais difícil?
Na maior parte das vezes pode ser uma virtude mas em alguns casos pode ser um grande defeito.
Nesse sentido, até que ponto achas que a escalada te moldou como pessoa?
É uma pergunta complicada, comecei a escalar com treze anos e passei a minha adolescência a escalar de um lado para o outro, é óbvio que isso marca a tua personalidade, mas sobretudo a parte da competição é transversal a todos os desportos e nesse aspecto marca bastante, pois os resultados estão directamente ligados ao que se trabalhou antes, se se aprende essa lição já valeu a pena o esforço.
Até que ponto a competição foi e é importante para ti?
Eu comecei a escalar num rocódromo e até perceber como funcionava a dinâmica de escalar em rocha só a competição fazia sentido. Acaba por ser uma boa motivação para treinar e aproveitar a boa forma para realizar objectivos em rocha.
Voltando um pouco atrás, Brasil, Barcelona, Lyon, até que ponto a escalada influenciou na escolha destes destinos, se é que influenciou?
Brasil foi totalmente ao acaso, fui aceite num programa em que podia ter sido colocado em qualquer país do mundo, acabei por ir para o estado de Santa Catarina e no primeiro fim-de-semana já estava a escalar com os locais. Coincidiu também com a descoberta de uma das melhores falésias do Brasil que se chama Corupà, que ficava a 100 km de minha casa, e onde ainda tive oportunidade de equipar um par de vias.
Barcelona foi uma escolha pessoal já mais a pensar na escalada, e Lyon foi obra do destino mas que me esta a dar uma outra, e diferente, abordagem à escalada.
O que encontraste de diferente e o que mais te marcou, e marca nesses países, centrando-nos no mundo da escalada?
O Brasil, e falando do Sul onde vivi, está mais avançado do que imaginava. Em Curitiba por exemplo existe uma comunidade de escaladores bastante fortes e dinâmicos e têm dois ou três rocódromos grandes, ou mesmo mais a Sul, em Caxias do Sul, existe uma falésia com vias de alta dificuldade. Neste momento o único entrave é o preço do material para equipar. No Brazil acho que aprendi a dar valor às realizações dos locais, com as condições que têm o nível onde chegam é bastante meritório.
Barcelona propriamente dito não tem nada tirando Montserrat a 50Km, mas depois num raio de 300km tem tudo. São necessárias várias vidas só para fazer as vias de qualidade, aliando isso à dificuldade, é um verdadeiro paraíso.
Em Lyon descobri um lado da escalada que nunca tinha pensado viver, que é a escalada em grandes muros interiores. Vivo a dez minutos do maior muro de escalada indoor de França, dirigido por um ex-campeão do mundo e com bastante gente com um nível superior ao meu a treinar, tem dado para aprender bastante. Em rocha tenho tido contacto com uma coisa que damos pouco valor em Portugal que são os talhados ou no nosso caso a ausência deles, principalmente nas escolas mais antigas, onde há talhados do 6a ao 8a, em conjunto com o uso excessivo. Muitas vezes penso que também vivemos num pequeno paraíso onde podemos desfrutar de vias novas e naturais.
Em certa medida o nosso atraso protegeu-nos dessa “tendência”, mas… não estarás a confundir paraíso com saudades de casa?
Se calhar não foi atraso mas futurismo. Como em muitos outras coisas na vida só nos damos conta do que temos quando a vemos de outra perspectiva, mas já me tinha dado conta no Verão passado ao refazer umas vias no Sicó que já não fazia há muito tempo, e me dei conta que são vias bem especiais.
Diz assim de rajada 3 dessas vias especiais?
Passagem de Testemunho, Circus e Bob o Equipador.
Amanhã publicamos a segunda parte, o verdadeiro paraíso, viagens recentes, os treinos, etc…
Que bela supresa Joseph… Pep… Zeca… Nem sei como te chamar.
Venha a parte 2.
Foi muito bom saber coisas deste “rapaz” que está um homem feito!
Aguardo a 2ª parte!
MOI”ZÉ”S
José,kmon,porra tu ta fazendo falta aqui no Brasil,se um dia der certo volta Corupa evoluiu muito,muitas linhas novas abertas a rocha em sim melhorou a testura,venha!
Att:Poder