Jason Kehl não precisa de apresentações, escalador de bloco reconhecido pelas suas temerárias FA’s de highballs, define-se a si próprio como um artista que procura na escalada uma forma de expressão. Perseguidor do bizarro, que nele constitui uma espécie de imagem de marca, é também um shaper de presas de enorme talento, talento que está também presente na edição de vídeos de bloco como vamos ver.
As expedições para fazer exclusivamente bloco, não sendo uma novidade, são relativamente raras. No entanto os vales das grandes montanhas são depósitos naturais de blocos e dos melhores ou seja blocos de glaciar. E são por isso territórios desconhecidos e de exploração por excelência. Uma espécie de ultima fronteira do bloco. Em 2008 uma equipa franco-suíça explorou o altiplano Argentino no sopé do vulcão Tuzgle descobrindo um dos melhores sopt’s de bloco da América do Sul, da viagem fizeram um excelente filme de 21 min. realizado por Julien Nadiras and Vladimir Cellier. Mas apesar de ter carácter expedicionário: localização remota, incerteza da descoberta etc. não vai tão longe como a The Zanskar Odyssey feita por Kehl pois aqui o terreno de jogo passa a ser os Himalaias, envolvendo carregadores, cozinheiros e demais parafernália típica das expedições nesta região.
Estabelecido o carácter insólito da coisa vamos ver o que ficou da expedição. Ao contrário de Julien Nadiras, que optou por um filme tradicional em DVD com distribuição comercial, este foi dividido em cinco episódios mais um trailer, que na realidade é uma espécie de piloto, para distribuição gratuita na net, podem ser vistos aqui ou aqui. Dividir o que seria um filme de uma hora em várias curtas-metragens foi uma aposta ganha já que esta é a medida certa para uma hiperactiva e frenética Web.
Jason Kehl como artista que é gosta de se distanciar dos produtos videográficos típicos do bloco, apesar de ser personagem omnipresente em muitos deles, impondo o seu carácter criativo, algo indiscutível, e dotes de edição de vídeo bem acima da média, criando um produto e uma história dentro do melhor do que já foi feito dentro do mundo do vídeo de escalada com meios muitos limitados e simples.
Criou uma narrativa que se estabelece em torno de um fio condutor: a busca de um novo spot de bloco nos Himalaias, com todas as incertezas e aventuras e choque cultural que isso acarreta. Tentando mesmo incluir âncoras de suspense no final da cada episódio, um efeito bem conseguido apesar de o espaço temporal entre cada episódio, mais ou menos dois meses, ser algo exagerado e diluindo o efeito pretendido.
As quatro personagens, Pete Takeda, Abbey Smith, Jason Kehl e Mick Follari, estão bem presentes e definidas através do artifício da voz-off que de uma forma muito concreta e introspectiva nos dá a conhecer as suas aspirações, os seus receios e até aquilo que estão a ler, numa belíssima sequencia muito bem conseguida, talvez mesmo a melhor de toda a série.
Com o episódio numero cinco, lançado recentemente, a série chegou ao fim, fechando o que em minha opinião é o melhor produto de vídeo de bloco já feito para a net até hoje e mesmo fora desse contexto insere-se dentro do melhor que tem sido feito dentro dos filmes de bloco para audiências esclarecidas. SM
Para mim, do melhor que vi nos últimos tempos. Goste-se ou não do estilo, tem detalhes muito bons. Vê-se que foi pensado ao milímetro. Para além do mais, sabem como contar uma história e a edição é super cuidada. Só assim, no meio de toda a babugem que anda por aí, é que blocos grau baixo (salvo uma excepção) preenchem um filme destes. Finalmente um bom filme de bloco, onde o grau é o que menos interessa. Só achei que o local em si não é uma imensidão de problemas, como queriam passar a ideia.
Uma colecção bastante agradável. Não gostando de uma personagem em especial (opinião pessoal), tenho de concordar que realizou um excelente trabalho. É com sentimento que revejo no espírito de descoberta e esforço de viagem o pioneirismo nortebouldering em locais igualmente fantásticos e remotos, como “Argalandia” ou “Covaocimeiro” recheados de aljôfares. Como é óbvio um grupo expedicionário luso possui características muito particulares (garrafão de vinho e sandes de presunto incluído) mas aqui como lá, o que faz mover o homem “escalador” é o desejo de se encontrar, sem dificuldades registadas, sem imposições ou obrigações. Para isso basta fruir revendo-se em cada movimento, um filme ou os vossos filmes mostram coisas dessas. Obrigado
Dear Ernest,
Não posso deixar de sublinhar a importância de ser ernest. Dito isto, gostaria de lhe dar as boas vindas à casa dos sete pilares, onde cada um deles não passa de um pálido reflexo do exemplo que a sua vida teve em nós. Folgo que, onde quer que esteja, se dê ao incómodo de observar vídeos de bouldering, a eternidade é entediante eu sei, e mais ainda de aceitar as nossas sugestões. Não imagina como me deixa feliz por ver nas nossas próprias produções algo mais do que a poeira do grau, algo tão nefasto e agrilhoante para o escalador como o gelo o foi para o seu Endurance.
Seu eterno admirador
NB