No novo número da DPM surgiu um anúncio sui generis assinado pela Revolution, Organic e Pusher, tudo pequenas empresas da área do Bouldering, com fabrico caseiro dos seus produtos mas com forte implantação na comunidade e na própria história do Bloco em si, devido à qualidade daquilo que fazem, da imagem que transmitem e das inovações que implementaram.
Clark Shelk, a mente por trás da Revolution e criador da Cordless e Pusher, é um tipo original, inconformado e sem papas na língua. Se, neste anúncio fica pelas acusações veladas no seu excelente blog chama os bois pelos nomes e acusa literalmente empresas como a Black Diamond e Mad Rock de plágio de produtos e de não contribuírem para o desenvolvimento do Bouldering em geral.
Vale a pena reproduzir aqui o manifesto da Revolution:
“Why Revolution?
We believe that bouldering is, and should be, for the entire climbing community. Unlike Sport Climbing and competitions, the bouldering movement didn’t come from the elites. It came from the dedicated underground crews of nobodys across the globe. It is easily the least expensive and most accessible form of climbing. The first-time climber can run on a circuit of V0s’ and the dedicated can spend weeks working the hardest moves in the world.
That’s why there is sort of a “Communist” look to Revolution. It’s not a political thing. We simply believe in the larger, worldwide community of bouldering and we are dedicated to supporting it.
Bouldering is for the people.
One other thing- all of our gear is made in house, right here in Salt Lake City… “
E isto retirado do seu blog:
“We believe in making the highest quality products we can for the sport we love. We believe in developing bouldering in this manner, same as scrubbing down and sending new blocks.”
Não é preciso dizer mais. Este homem não vai ficar milionário a fazer crash-pads e é quase comovente e anacrónico o grau de empenhamento emocional que coloca nos seus produtos, que, diga-se de passagem, foram e continuam a ser dos mais inovadores na história do Bouldering.
Estará mesmo a escalada em vias de se transformar num desporto mainstream? E, para estas pequenas empresas caseiras o único caminho possível é serem engolidas e desaparecerem no turbilhão da Globalização como, por exemplo, aconteceu à A5 engolida pela The North Face e desaparecendo sem deixar rasto.
O que é que anúncio destes pode significar? Uma provocação e uma forma de alargar o nicho de mercado que interessa a estas empresas: o “consumidor consciente”, isto é, escaladores com poder económico suficiente para sustentar a sua própria consciência. Ou, um grito desesperado de quem vê esse nicho a desaparecer, devido à inundação do mercado com produtos concorrenciais de características semelhantes mas com preços muito mais baixos.
O efeito do “crescimento da escalada” poderá até ser benéfico para estas empresas que querem, deliberadamente, permanecer pequenas, ou seja, crescer de forma sustentada sem recurso a mão-de-obra fora do país etc. Haverá sempre mercado para o produto de autor de elevada qualidade. E terão de se aguentar, mesmo raivosamente como o Clark Shelk, com o plágio dos outros.
O Anúncio em si poderá ter algum impacto nas “consciências finas”, mas no quadro geral pouca ou nenhuma mossa fará. Os “grandes”, ou os que conseguirem, continuarão a crescer produzindo na Asia e apropriando-se das ideias dos outros, como alegadamente diz CS.
Mas os tempos são de revolução e agitação, e nada é seguro ou dado como garantido, por isso este anúncio pode ser uma semente para um movimento ou para uma forma diferente de as coisas acontecerem numa época em que o capitalismo parece confrontar-se com os seus próprios abismos. Ou, apenas, perdurar no tempo como uma excentricidade. SM
De certo modo este assunto já foi rondado neste site(discussões acerca dos feitos de alguns escaladores, métodos mais ou menos questionáveis para atingir objectivos ou simplesmente “filmes”), enfim pensem o que quiserem, cada um vê a escalada por seus próprios olhos.
Imagino que quem ainda calça pés de gato já terá certamente dito que os de agora já não são como antigamente, e não são mesmo,,, mas também quem é que dará conta disso se tiver os mais catitas ou mais ligeiros com uns apliques a cor-de-rosa e fitinhas de velcro microfilamentosas de magnetismo super-reforçado. Deixamo-nos ficar assim pelo propositado esquecimento do que era Qualidade.
No caso especifico de crash pads que interessa a fanáticos do bloco não me parece que seja diferente. “Quem não compraria um BD gigante por 150$?” Um fanático não faz o mundo, nem isso interessa ao puro que já utilizou o mais belo dos tapetes lá de casa(ou do carro) para se exercitar na rocha.
Aqui vamos continuar nas “mainstream” até por uma questão de acesso, mas vamos sempre ouvir dizer que a espuma dos “organic” é que é!
O problema é claramente com o mercado europeu, um Full Pad da organic compra-se por $185(135€), um similar da BD custa $219.95(160€).
O problema é que a Organic não vende para lojas, todos os seus crashpads são vendidos directamente, a marca alega que é melhor para o consumidor, na realidade a margem que ganham fica muito maior, porque não ha distribuidores, stocks, lojas…
Quando a Organic quis vender para a Europa percebeu que este sistema não ia funcionar devido aos elevados custos de envio, e alfandegários e passou a ter distribuidores na Europa.
O problema é que com o preço que os crash pads saem da Organic é difícil introduzi-los no mercado europeu e competir com outras marcas. Houve a sugestão que a espuma fosse posta na Europa, ou se usasse espuma mais barata, mas a marca não quer abdicar do seu conceito e das suas margens. E surgiu a indignação perante os preços praticados por outras marcas na Europa.
Cada vez mais se defende nos Estados Unidos o conceito, de comprar produtos feitos nos Estados Unidos com matéria prima dos Estados Unidos, é uma lógica que devíamos adoptar na Europa e mais concretamente em Portugal mas só pode ter como objectivo o mercado local tornando-se impossível competir num mercado global.
São paradigmas diferentes que não conseguem coexistir neste mercado. Se por um lado são marcas com atitudes patrióticas, que defendem o mercado local e o pequeno produtor, por outro chocam com as medidas proteccionistas de outros mercados, quando tentam vender para outros países e sofrem na pele as políticas alfandegárias europeias que existem para proteger o mercado europeu de produtos extracomunitários.
Humm… Para que é que serve a publicidade? Às empresas só resta adaptarem-se ao seu mercado. A criatividade tem sido uma mais-valia da revolution (cordless) mas não basta tratar da concepção, há que tratar da viabilidade da empresa em termos económicos, que é para isso que esta serve. Provavelmente, esse senhor estaria melhor no departamento de concepção da TNF para deixar um CEO esclarecido a tratar do negócio. Parece-me fazer pouco sentido tratar a empresa como se de uma ONG humanitária se tratasse, porque se assim fosse, o tempo que eles despendem em conceber produtos para o bloco seria bem melhor empregue em trabalho comunitário ou afins. Essa “preocupação” só existe na cabeça de algumas pessoas com excesso de tempo e dinheiro.
Numa coisa o Sr. Revolução tem razão, o bloco tem o potencial de ser uma actividade para massas por necessitar de poucos recursos para ser praticado, pelo menos inicialmente, e porque potencia as relações entre praticantes, mais do que noutras actividades de montanha (a meu ver). Mas penso que ele se enganou noutra coisa, o bloco não é necessário para a Vida, é apenas um rebuçado para aqueles que gostam de açúcar.
Para terminar, os produtos deles têm sido, de facto, inovadores, não posso (who’s the Boss?!) é aceitar que a inovação seja inimiga da competitividade, não faz sentido.