Já com uma semana de atraso, saúda-se a estreia online da Revista Vertigem, um trabalho enorme e um verdadeiro tour de force dos três directores: Frederico Silva, Nuno Pinheiro e Filipe Costa e Silva.
Confesso que não gosto da palavra vertigem em si, associo-a sempre à noção de escalada de um não iniciado, “Eh pá! Isso da escalagem deve dar vertigens, não?”, vertigem e escalada não casam, geralmente quem tem vertigens não escala e quem escala não tem vertigens. Por isso logo aqui começam as dificuldades de cimentar um nome como este. Dificuldade, ultrapassada logo a abrir, no editorial, onde FCS no primeiro tour de force dobra e expande a palavra girando à volta dela sem nunca cair na “vertigem” do facilitismo e do chavão. “O escalador é aquele que procura sempre a vertigem, para lhe resistir, para a vencer. Ele é o senhor da Vertigem”, duplo sentido de belo efeito para vertigem palavra e vertigem revista.
O Grafismo é sóbrio, assumindo somente alguns riscos no artigo de Albarracin. A entrevista ao Paulo Alves dá dimensão histórica e serve de suporte ao artigo do Espinhaço. Neste aspecto a revista assume à partida um papel fundamental ao dar profundidade temporal à escalada portuguesa. Sendo a entrevista algo insípida vale essencialmente para dar a conhecer o escalador e a sua actividade principalmente no contexto dos anos 70/80, sendo ainda de notar algumas fotos interessantes.
Depois a pérola: o artigo do Espinhaço. Do qual destaco esta frase “…também nós somos uma fortaleza sobre um penhasco, vigiando um oceano e esperando navios que virão ou não, ameaçados de ruína pelas tempestades dos anos…” num artigo informativo e fluido, temos informação histórica, perspectiva pessoal, reflexão sobre as virtude da escalada clássica, que mais se pode pedir? Sublinha-se ainda a excelente qualidade fotográfica deste artigo.
A importância de uma revista é uma evidência. A sua sobrevivência num país pequeno e com uma microscópica comunidade escaladora, é que está mais do que comprometida. Mas talvez me engane e surjam surpresas como este fim-de-semana na Maia por exemplo. No final um esforço destes nunca é inglório e este primeiro número é já parte da história, uma história que exige futuro. Acta Est Fabula, esperamos pelo próximo acto.SM
Eu sei que realmente não foi concebida no Norte, nem pela malta do norte, mas não está assim tão má e o esforço das pessoas não foi assim tão pouco para merecer uma crítica tão negativa e pessimista. Acredito que seja a tua opinião pessoal e aí não se pode pegar, pois gostos não se discutem, parece-me é que podias ter dado um parecer mais “políticamente correcto” e com menos “personal issues”. “A sua sobrevivência num país pequeno e com uma microscópica comunidade escaladora, é que está mais do que comprometida.” Quando uma figura tão importante da Escalada Portuguesa tem este tipo de prespectiva em relação a um projecto destes, realmente estamos comprometidos… A comunidade escaladora não é do Norte, do Sul nem do centro, é de Portugal, só compreendendo assim as coisas é que vamos deixar de ser “microscópicos”.
Sem ter nada a ver com o projecto condenado, fiquei no fundo sem perceber se gostaste ou não da revista?
E já agora qual foi a surpresa da Maia??
Abraço, André Neres.
André. A revista está mais do que boa, está mesmo muito boa e deu-me muito gosto de lêr. E aliás sou um dos colaboradores da revista e só não colaborei mais por razões que não interessam ao caso.
Algumas das pessoas que estão à frente do projecto, encontram-se entre os meus melhores amigos, por isso e por respeito devia-lhes um comentário sincero e não “politicamente correcto” coisa que nunca fui e da qual fujo a sete pés.
A critica não é negativa, longe disso, a entrevista e o artigo do Espinhaço, poderiam aparecer em qualquer revista profissional e dizer isto é dizer muito.
O pessimismo, de facto não o pude evitar, e talvez o esforço contido no projecto merecesse uma nota de esperança. Mas aqui trata-se mais da sobrevivência comercial do projecto a que me refiro e não tanto a capacidade da comunidade “microscópica” de produzir noticias, eventos e factos. Um projecto como este para ter qualidade, ainda mais qualidade, precisa de sustentação comercial e é a essa sustentação que me refiro.
Eu, pessoalmente, nunca vi nem vejo as coisas do ponto de vista regional e a Revista Montanha, como sabes, foi a prova disso mesmo.
A surpresa da Maia a que me refiro foram os miúdos, dos quais não conhecia a capacidade para escalar e competir e que por exemplo podem muito bem sustentar e expandir a comunidade “microscópica”. E que carregam bem uma nota de esperança para a escalada. Portanto, como na Maia, pode ser que me engane e apareçam patrocinadores, sabe-se lá de onde, para apostar neste e noutros projectos, e o levam para um caminho pelo menos semi-profissional.
Uf…temia ser mal interpretado, mas tanto…sabendo lêr a critica é positiva e tenho a certeza que o Filipe, o Nuno e o Fred, assim a entenderam.
Johan Perrier Films.com
Réalisation de films documentaires Montagne…Expédition…Aventure
“João Garcia sur des 14” – un film de Johan Perrier
http://www.johanperrierfilms.com/joao-garcia-sur-la-route-des-14/