
Reglette, reglêta, crimp ou réglete? Nada como ver no NBLéxico. Bloco: Quarto Escuro V7 cs, Balinhas, Arouca; Escalador: Bruno Gaspar; Foto: Oldemiro Lima.
Já aqui referi que a escalada portuguesa está infestada de estrangeirismos irritantes. Fartos de tropeçar em “aspas” e itálicos avulsos, vamos tentar estabilizar o nosso léxico.
Aqui ficam alguns dos termos mais usados. E as nossas sugestões.
Á-platte. Difícil de encontrar um substituto: o “abaulado” brasileiro é interessante. Quase exótico. O “romo” espanhol é curto e bruto, uma alegoria quase perfeita dos nossos vecinos? O “Sloper” anglo-saxónico não pega. Vamos então tentar a via do aportuguesamento sugerindo-se áplate.
Bi-doight. Aqui parece evidente o aportuguesamento para bidedo. A palavra não existe mas o seu uso é tão corrente que esta é sem dúvida a melhor opção. A título de curiosidade o termo mais próximo no dicionário é bidigitado, mas não é tentador, já “bidigital” seria engraçado. Aplicaremos o mesmo princípio para monodedo e tridedo, obviamente.
Blocar. Embora o verbo exista, não tem propriamente o significado de bouldering. Mas aqui parece interessante uma apropriação da palavra para nosso benefício. Passando a definir-se blocar como a actividade de escalar blocos. Mas “blocador” já não existe teria de se escrever bloqueador, o que não é tão interessante e nos leva para o – harg! – universo das cordas. Usando blocar no sentido de bouldering faz sentido usar blocador no sentido de Boulderer ou praticante de Bouldering.
Campus. A palavra aparece já nos dicionários mais recentes, por isso é fácil e pode-se escrever: movimento de campus já sem itálico. Claro que um não iniciado vai pensar em algo como movimentos contestatários com origem em algum campus… universitário.
Crashpad. Vulgo crash. Deveríamos dizer colchão-de-queda. Mas realmente não pega, imaginem: – Bolas! Não trago colchões-de-queda suficientes para tentar este bloco!… Aqui o mais sensato é manter o anglicismo: crash.
Drop off. Difícil de arranjar um termo de substituição. Imaginem: – Este bloco acaba neste puxador-de-largar! Ou: – Este bloco é de largar no fim! Ou: – Este bloco é um deixa-te cair. Impossível. Ficamos com o Drop off. Lindo seria escrever Drópofe, mas não nos atrevemos a tanto.
Flash. Um bloco pode ser feito em flash. Mas não pode ser “flachado” porque o verbo “flachar” não existe. De qualquer forma o termo já pode ser escrito como flash ou flache, nós optaremos por flash.
Highball. Não há substituto possível. Poderia ser simplesmente bloco alto, mas nem todos os blocos altos são altos blocos. Bola alta não ficava mal, mas é linguagem do –harg! – mundo dos desportos com bola. Fica highball.
Mantel. O movimento fetiche (sim senhor, fetiche em vez de fétiche) na arte do bloco. Existe um termo muito usado por estas paragens: Salto de cavalo. Não é muito prático mas já está de certa forma enraizado por isso a nossa sugestão vai no sentido de usar salto de cavalo no sentido de rétablissement ou mantel.
Reglette. Há! Esta é a palavra fulcral, pois um bloco a sério tem de ter várias. Uma tradução possível seria réguazinha, mas é impraticável dizer: – Ui, que duro! Estas réguazinhas estão muito afastadas! Por isso e devido aos anos de uso quase generalizado sugerimos o aportuguesamento para réglete.
Swing. Já se pode escrever em português ou já foi feito o aportuguesamento. Imagino que não será tanto pelos começos swing dos blocos, mas mais pela popularização… dos clubes de swing. Assim, quando começar-mos um bloco dando impulso com o pezinho que está no chão seremos… swingers. Embora isto não signifique que se viabilize a troca de encadeamentos entre escaladores praticantes de começos swing.
Estas são as nossas sugestões, para uso neste sítio…ou site. Segundo o livro de estilo do Público seria sítio, mas enquanto não publicamos o Livro de Estilo Nortebouldering optamos por ficar com o estado de sítio neste site.
Mais sugestões ou correcções?
Caro NorteBouldering…
Ia agora mesmo dar umas sugestões sobre o excessivo e mau uso de anglicismos e outros mas… que raio, deparei logo com a contradição do título que ostentam! E seguindo as vossas boas sugestões, deveria chamar-se Blocadores do Norte. Adiante, que isso já vos vai dar trabalho de explicações de nomenclatura… e nada de desculpas que “o inglês soa melhor”, “em português fica ridículo e blabla…”.
Em relação ao “àplate” a minha sugestão é “escorrega”…Agora que largaram o sorriso céptico, vejamos alguns exemplos: “Agarra o escorrega!”, “Lança p’ró escorrega!”, etc.
“Crash”. Colchão-de-queda é mau. Mas só colchão aceita-se. Duas sílabas, palavra usual…
“drop off”. Pois não há uma uma palavra boa. Mas pode dizer-se “bloco sem saída por cima” ou bloco que termina em “salto final”, “queda final” ou “largada final”.
“highball”. Bloco gigante.
“reglette”. Talvez a palavra mais díficil. Proponho uma tradução não literal mas de significado, que aliás traduz a ideia inglesa de “crimp”, ou seja: Vincada. Vejamos: “lança p’rá vincada!”, “Vai à vincada!”, etc.
Proponho ainda duas novas palavras.
“Derviche”. Este movimento complicado de troca-cruza braços pode muito bem ser chamado de “Manguito”.
“Yaniro”. Sem desprestígio para o escalador Tony Yaniro, acho que se justifica a palavra “pernito” (na sequência de a palavra manguito ser usada para o cruzamento de braços).
Estes termos novos foram sugeridos e discutidos já há muito tempo por mim e pelo Francisco. Claro que não é fácil introduzi-los e adoptá-los na nossa gíria corrente mas parece-me ser apenas uma questão de largar o complexo “a língua portuguesa é ridícula” e a mania “falar estrajeiro dá status”. Aliás os nossos vizinhos e irmãos(?) são nesse aspecto muito menos provincianos e não se deixam embasbacar tanto com estranjeirismos.
E outra coisa, é hora de largar o irritante “Venga, venga!” tal como outrora era o “Allez, allez!”. É demasiado mau, até há quem diga as asneiras em espanhol quando cai! Ainda por cima quando temos excelente calão português, do melhor ordinário e brejeiro possível, foda-se, caralho!
Abcs
suíngue de encadeamentos, tss, tss, tss…
Dear Philips
É com agrado que registo, a estreia de duas das mais importantes palavras do léxico português aqui no NorteBloco, à qual juntaria se me permite, puta, para assim ficarmos com uma espécie de trilogia do vernáculo, pronta a ser usada pelos coléricos ícaros.
Os nossos vizinhos são tudo menos originais, veja-se o caso de reglêta e mantle…Mas a verdade é que para lolote arranjaram uma excelente bicicleta.
Mas, “escorrega”e “vincada”, são excelentes contributos.
“Manguito” é uma sugestão fantástica, embora não traduza bem o movimento, mas pela originalidade, pode ficar como o movimento do povo.
“Pernito” para yaniro não convence, já pernil…
Como anedota não foi o Yaniro o inventor desse bizarro movimento mas sim um tipo chamado Darius Azyn, pelos vistos um amigo, que usou primeiro o método na via chouca, o yaniro copiou e foi o feliz retratado nessa bizarra posição…
Big hug
Haaaa caro Philips,
São 5am e liguei-me à internet! Para meu grado vejo que finalmente alguém tem a coragem de tentar estabelecer uma norma no léxico desta fantástica comunidade. Deixo desde já os meus parabéns ao NB!
Rapidamente, ao longo da leitura do dito post, me lembro das ideias há uns anos discutidas por nós: escorrega, pernito e manguito! Tanta risada brindada por um tintol, junto à lareira de uma casa que ja foi garagem e atelier. Estava o Fran presente? É possível… é possível… 🙂
Mas eu certamente estava e dei o meu precioso contributo! Assim sendo reclamo parte dos créditos de tão fantásticas ideias e espero que da próxima sejas mais moderado na tua parte do precioso néctar 😉
Mais umas sugestões:
Aplat – Plano
reglette – beirada, friso, carica (dependendo do tamanho da dita)
Barn door – Portão da Quinta
Chalk up – Magnesiar
Flapper – Bife
Gaston – Movimento de Ombro ( em inglês gaston pode apelidar o movimento em si, ou uma presa que seja utilizada nesse movimento)
Heel hook – Calcanhar
Mantle – dobragem ou dobrar (como o Salto de cavalo não é a unica maneira de resolver um mantle e muitos não são possíveis com saltos e cavalo)
aqui ficam alguns com falta de tradução:
Graton –
O seguinte é um termo pouco usado mas que cada vez faz mais falta ao léxico português:
Sandbag – (quando um grau é dado muito por baixo da real cotação da via ou problema, quem costuma ter estas atitudes é chamado de sandbagger, está também associado àquelas pessoas que acham que todos os movimentos são fáceis e gostam de o expressar perante os outros escaladores )
Caro NorteBloco,
“Plano” é também uma boa adição e um bom sinónimo para “escorrega”.
“Sandbag” é género uma trapaça e quem as faz ou diz pode ser um trapaceiro. palavras não faltam em português. Espírito matreco também pode traduzir isso.
“graton”…aquelas pequenas saliências de formato diverso para apoiar os pés… Não é fácil, mas não me rendo à intradução. No pior das hipóteses há sempre aquela palavra universal para tudo o que é meio indefenido na morfologia da rocha e que já há muito tempo adoptei: “Cenísia”…!? Não percebem?… Vem de “cena” mas é um derivado mais ilustrativo, ex. “agarra essa cenísia”, “põe o pé nessa cenísia”, etc. A palavra não é minha, apanhei-a do Flau, já há mais de 15 anos.
Caro Miguelin, as minhas desculpas por esta crónica desmemoriação. Agora que me lembraste recordo esse jantar onde entre tintos traduzimos alguns destes termos. E o Fran realmente não estava lá, mas não sei porquê tenho na memória que a 1ª vez que começámos a traduzir estes termos foi com com ele e depois nesse jantar adiantámos outros. Não importa. Que fiquem esses termos registados “segundo MiFraFi”.
“Puta” sem dúvida é o meu calão preferido. Uma boa e ingrata queda deve merecer sempre uma “puta” bem gritada. E eu não as poupo, que ao contrário das outras estas são de borla.
abcs
Bom, o propósito não era arranjar traduções ou palavras portuguesas de substituição. Mas sim estabilizar a maneira de escreve-las.
Não me parece que seja possível ir contra o uso corrente enraizado há muitos anos, aqui a melhor opção é escrever no original ou tentar o aportuguesamento.
Mas as sugestões estão a sair muito boas:
Plano é uma excelente sugestão.
Para “Barn door” penso ser fácil: Nós costumamos dizer “abrir a porta”.
“Gaston”, penso ser muito pouco usado, “passo de ombro” ou “ombro” resolve bem a questão.
“Graton” poderá ser cristal, ou taco talvez. De qualquer forma penso que o seu uso é pouco corrente.
Dobrar para “mantle” é uma boa sugestão.
“heel hook”, é amplamente substituído por calcanhar.
“toe hook”, pode ser substituído por ponteira talvez
“Magnesiar”, não existe como verbo também, mas é um termo que pode ser perfeitamente apropriado. Se bem que o Philips é bem capaz de sugerir, e muito bem, o excelente empoeirar.
Agora chegamos ao caso bicudo do “sandbag”, uma fenómeno muito presente na escalada, e do qual Portugal não escapa também.
Trapaceiro é um termo jeitoso, mas não penso que o “sandbager” seja uma espécie de malfeitor do grau, vigarista das escalas, batoteiro dos oitavos, embusteiro dos sétimos, ou mesmo burlão dos sextos.
É mais um depreciador, atribui um preço inferior ao que realmente lhe custou comprar para poder aplicar a margem de ego quando mais tarde for vender, em sites da especialidade por exemplo.
Há também o “sandbager natural” e aí estamos perante uma espécie de “Robin Hood ao contrário”: rouba grau aos pobres e aos ricos vende mais barato. Mas na realidade age de forma inocente, pois não sabe avaliar o que rouba.
Aproveitando o balanço (swing) proponho, à semelhança do epíteto usado para os “blocadores” habituais de Fontainebleau (Bleausards), o uso da seguinte terminologia (e pago um jantar ao NB se algum dia algum destes termos pegar de moda ;)…):
Sintreiro – frequentador habitual de Sintra
Pedreiro – frequentador habitual da Pedra do Urso
Biqueiro – frequentador habitual de Corno do Bico
A outra hipótese era usar o sufixo “ista”, mas terminaríamos na linguagem vernácula novamente, para além do facto de que não gostar de ver os locais de Bico apelidados de “broch…”.
Já agora cenísia não uso, mas “cenaita” sim…